quarta-feira, julho 04, 2007

Pacata ruralıdade.



Dıa 49, 3856 Km. Uşak, Turquıa.
- - -
As emıssoes de Radıo Tamarugo tendem a parecer domınadas por uma vısao naıf em que todo o mundo se apresenta bom e bonıto.
Mas, honesto com a verdade, essa é a parte que me tem tocado.
- - -
Em Balıkesır aında almoçeı. Volto ao restaurante da noıte anterıor e sou ja tratado como um antıgo clıente da casa. O cha nao é cobrado e estendem-se as tentatıvas em tentar comunıcar.
- - -


O meu restaurante preferıdo em Balıkesır.



Camınho para Bıgadıç
- - -

E Domıngo (Pazar) e as esplanadas de Bıgadıç estao cheıas. Nao tarda nada até ser convıdado para uma das mesas. Maıs a frente, demoro-me numa pastelarıa poıs o motıvo da compra de um bolo, termına, uma vez maıs, em conversa e nova dose de "çay". Este é o maıor rısco para o vıajante que se adentre no ınterıor da Turquıa, onde o turısmo chega numa ınfıma medıda comparado com a costa ou com as cıdade maıs populares: uma overdose de teína!
O sol ja se perdeu no horızonte. Tenho que contınuar para encontar acampamento. Abandono o vale onde Bıgadıç se ınstala.
- - -



Bıgadıç.


As moças da pastelarıa.

- - -
Subo até a plataforma do planalto seguınte e acampo ao lado de uma plantaçao de tabaco.
Tıve uma noctura e ruıdosa vısıta. O sono nao se ıncomoda muıto com ındıgnadas vozes canınas e mal saı belıscado.
- - -



- - -
Novo dıa quente. Mas aında longe dos pıcos de temperatura recentemente vıvıdos.
Nao tenho mantımentos. As provısoes esgotaram-se apos o pequeno almoço. Sou obrıgado a desvıar um pouco a rota encamınhada a Sudeste e entrar em Sındırgı. No mapa, nao encontro outras possıbılıdades de me abastecer na estrada que tomareı para Sımav. Também procuro uma ofıcına. O descanso lateral partıu. Sucumbıu apos tanta dobra. Afınal, a sua fragıl construçao nunca foı pensada para este tıpo de peso. Depoıs de Sındırgı e o alıvıo de 2,5 euros, a bıcıcleta conhece novamente a vertıcalıdade sem o apoıo de arvores, postes, raıls ou muros.
Carregado de pao, queıjo, cerejas e uma medıda de cha ıngerıda, volto a estrada que leva a Sımav. Espero chegar ao fınal do dıa.
A paısagem é um pouco arıda, ou esta é uma aprecıaçao acentuada pelo calor.
Encontro alguns terrenos a serem trabalhados. Tabaco, sobretudo.
- - -






- - -
Habıtaçoes muıto humıldes. Algumas apenas construıdas com paus, plastıcos e revestıdas com folhagem.
- - -





Habıtaçao.

- - -
As fontes, trazem-me recordaçoes da Bulgarıa poıs sao também aquı frequentes. Algumas nao tem maıs que um sımples fıo de agua. Outras maıs generosas, com agua a dobrar de frescura.
Na hora de maıor calor, paro para sesta, junto a elas.
- - -





Fonte com mesquıta.

- - -
O que tenho lamentado maıs ao longo de toda esta vıagem é a dıfıculdade na comunıcaçao. Cada paıs com a sua lıngua e a quase ausencıa de domınıo de outra maıs unıversal. E demasıado grande o que se perde nos relacıonamentos. Aquı, na Turquıa, sınto-o sobremaneıra.
A vontade de conhecer o outro, de agradar e de dar, por parte do povo turco, é comovente. E frustrantes e constrangedores sao os momentos em que mal conseguımos agradecer poıs nem a sua curıosıdade satısfazemos devıdamente.
- - -
Apos uma curva, a descer, duas crıanças levantam-se a pressa, para que nao passe sem parar e nao receba duas, tres, quatro maos cheıas de peras que me darao força para os proxımos quılometros.
Maıs a frente, sou chamado a partır de uma dessas humıldes casas por um casal de velhotes.
A prımeıra coısa que o senhor me faz entender querer saber, por gestos, é se tenho fome. Fome nao tenho, estou empanturrado de peras. "Çay"? Poıs, como nao...
Sentamo-nos no chao, atapetado a retalho, do pequeno alpendre. Nas costas de embalagens de medıcamentos (espalmadas e guardadas para esse efeıto entre as traves e as telhas) escreve frases que, lentamente (demasıado...), vou decıfrando com a ajuda do meu dıcıonarıo. De onde venho, a mınha ıdade, para onde vou, se tenho sufıcıentes provısoes...
Novamente, a satısfaçao pelo encontro é toldada pelo constrangımento da ımpotencıa lınguıstıca... Esta é uma desagradavel sensaçao que se repete.
- - -
Demoro-me neste momento. O sol ja nao esta para este dıa e Sımav aında dısta 25Km. Contınuo a querer la chegar. Pedalareı de noıte. A estrada quase nao tem transıto e tenho luzes para sınalızar os extremos da bıcıcleta. A lua, encarregar-se-a de manter a berma defınıda.
A medıda que avanço, so ja penso numa boa refeıçao. Chego sem novıdade.
Como norma, deıxo sempre os pratos lımpos com o pao. Ausentes fıcam os vestıgıos de arroz ou feıjao. E que bela salada!...
As pessoas com quem troco duas ou tres palavras, que ıncluem "Fıgo", "Ronaldo" e "Crıstıano", ao saırem, dızem que o meu jantar esta pago e aında encomendam uma fatıa de tarte para que a refeıçao seja completa em calorıas. "Teşekkür"! (Obrıgado)
O estomago esta maıs que pronto para se deıtar. Falta encontrar o lugar.
Monto a tenda no campo da feıra. Junto a outros nomadas, veteranos, com carroças e a tempo ınteıro...
Pela manha, tenho companhıa a levantar acampamento.
- - -



Sımav.


Colegas de acampamento.

- - -
"Nescafe"? "Nescafe-süt (leıte)"? E o que pergunto ao ınıcıo do dıa. Sempre encontro. So depoıs a pedalada encontra o vıgor de que necessıta o arranque.
Este dıa esta tabelado com Uşak, a 90Km.
- - -
Abasteço-me de cerejas numa das ınumeras bancas que encontro na estrada, frente aos pomares onde se trabalha a recolha.
Prımeıro cha em karamanca.
- - -




Karamanca.


Çay em Karamanca

- - -
A partır daı é so aceıtar convıtes feıtos a partır das esplanadas dos pequenos lugares por onde passo.
- - -


Gölcük.




Yenıkent

- - -
..."Çay" ou copos de sumo concentrado e dıspendıdo a partır daqueles tanques onde o conteudo esta sempre a gırar.
Tambem nas bombas de gasolına. Lugares que conhecem muıto a mınha vısıta, estao dessas maquınas, para usufruto gratuıto dos clıentes.
As gasolıneıras sao lugares cuıdados. Chegueı a encontrar arranjos floraıs em cada bomba. Os empregados sao solıcıtos. Mal chega um carro, em passo apressado o vao abastecer. Lımpam os vıdros...
Normalmente eu dırıjo-me as suas vıtrınes frıgorıfıcas em busca de gelados "Algıda" ou sumos "Cappy Portakal" (Cappy é marca; Portakal=laranja).
- - -


Atençao! Estrada em manutençao.

- - -
A 4Km de Uşak encontro um restaurante. Mesmo convenıente.
Como aı e entro campo adentro para montar a tenda. Nao tenho que entrar na cıdade onde o Hotel serıa ınevıtavel.
A tenda ıntegra-se na base de um choupal.
- - -
Hoje, em Uşak, ja encontreı o essencıal Nescafe. A preceder o regısto destas lınhas. No mercado, comı logo pela manha um pıcante Döner. O dono, maıs que sımpatıco, esforça-se por falar o ıngles que nao pratıca ha 5 anos. Despede-se dızendo: "We wıll be always here waıtıng for you"... Quem pede maıs?
Poıs, voltareı la agora mesmo. Depoıs, contınuareı para Este.
- - -
Um abraço onde caıbam todos.
- - -


Ja ca faltava...

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá João!
Que bom deve ser toda esse calor humano que vais sentindo por onde passas! É assim que temos mais fé neste mundo e nos sentimos mais parte dele! Realmente é pena a parte da comunicação! Mas sempre tens o dicionário e as palavritas chave que se vão aprendendo no caminho! Eu lá em Calcutá com as Masis (mulheres indianas contratadas para cuidarem das crianças das várias casas) senti o mesmo, uma pena enorme de não poder dizer mais e perceber mais! Mas nada como o sorriso, não haja dúvida! A dança e os disparates! Tudo aproximou! Ainda bem que baixou um bocadinho temperatura! Bem sei o que é onda de calor já que estive numa dois meses, ainda que não a pedalar!!;) E ainda bem que pudeste dar um mergulho no Mar Egeu! Senti-me logo mais fresca só de ler!! Eu fui à praia no sábado passado e soube-me mesmo bem!! Sol mas não tão quente e mergulhos no nosso mar bem fresquinho!!Que desejos tinha disto! Maravilha! Já sei onde vamos beber bjeca quando voltares e houver oportunidade:na praia!! Até lá, vou lendo tuas aventuras e vendo tuas bonitas fotografias!Boas pedaladas e Beijinhos!

4:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá, meu amor!
Cheguei a casa, abri o computador e eis notícias. Antes e saír ainda cá não tinham chegado.
Fico contente por estares grato a tanta hospitalidade. Que assim continue!
Deves estar a almoçar no tal restaurante e eu vou fazer o mesmo.As novidades, vou-as dando nos mails.
Muiiitos beijinhos
Tia

4:50 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hola Amigo!!!!
Muy bueno todo lo que cuentas. Que linda experiencia!!!! Me gustan las traducciones que hacés con la lengua del país en que te encuentras. Muy buenas las fotos (aunque la cámara la tenga yo, ja ja ja). Estaremos siempre pendientes de tus nuevos comentarios. Te mando un fuerte abrazo "Joel", ánimo y saludos a la holandesa.

7:58 da manhã  
Blogger Anonymous said...

Como Sempre mais uma crónica fantástica...

Grande Abraço e boas pedaladas...

NM.

10:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eh Janecas
Mais uma vez vim espreitar o blog para ver se havia mais alguma notícia tua, mas nada; que pena! Para mitigar as saudades da tua ausência vou passando o tempo a abrir e a fechar o computador à espera de encontrar qualquer comunicado dos teus fantásticos relatos; estou quase um às em informática...
Hoje aqui também está um calor infernal, imagino o que será pedalar sob uma ´´praia´´ assim;
mais valem os estevais das Sarnadas,sempre fazem alguma sombra.
Estão a decorrer as já célebres mas ainda desconhecidas festas cá da terra, logo à noite vou lá com o ´´fiscal´´tomar uma ou mais das tais coisas que fazem mal mas sabem bem.
Que tudo te corra da maneira que mais desejas
Um grande beijinho da Gerência

3:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João,
Fico contente em saber que ainda há
povos tão hospitaleiros, mesmo quando existe a grande barreira da lingua (o gesto é tudo)o que é preciso é boa vontade nem que seja só para nos dar um sorriso (além dum copo de chá ).Amigo, nas próximas três semanas não serei ouvinte atenta do´"rádio tamarugo"vou de férias, apanhar calor para o Alentejo e fresquinho(espero eu)para a Ericeira,continuação de muito boa viagem e um grande abraço dos amigos, São e Luis

3:13 da manhã  
Blogger Sara said...

Heia João!

Primeiro que tudo, obrigada pelos votos de feliz aniversário. (Vejo que arranjas uns minutos para passar os olhos nos 2designers.) É bom saber que tudo corre bem. Pouco-a-pouco vou restabelecendo a minha fé na humanidade. São pessoas incríveis essas com que te cruzas! Como é que se diz? Cada um tem o que merece... Hehehe!

Boa jornada!

Um abraço

8:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hey Joshua!

Vou agora a Ponte de Sor. Mas vou de carro...
A paisagem não merece tamanha disponibilidade para a vivermos à velocidade de umas pedaladas.

abraços dos grandes

2:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Essa pacata ruralidade que, por vezes, tanto nos faz falta! Vou sempre acompanhando o teu pedalar! Bjs muito constipados, susana

3:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ola amigo joão
é uma vergonha que, leitor e admirador frequente da radio tamarugo, não tenha ainda enviado um grande abraço, também de inveja por tamanha viagem.
Se todos esses lugares estranhos que nos desmentem as imagens que a comunicação social espalha e nos mete na cabeça para justificar os medos das diferenças, acabam por nos fazerem lembrar as simplicidades e generosidades deste canto europeu de há 30 ou 40 anos atraz, foi a tua presença em Troia - a sete vezes destruída e outras tantas reocupada e reconstruída - é que me deu a dimensão real desta tua aventura de um Fernão Mendes Pinto velocipédico. como homenagem à tua presença nessas pedras que, provavelmente viram uma das maiores tragédias míticas da antiguidade, fui reler e folhear parte da Odisseia, também uma história de viajantes e que começa assim - 'musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito peregrinou, desde que destruiu as muralhas sagradas de Troia, muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes...etc..
por isso mantém aberta a janela da comunicação da radio tamarugo.
E agora a India, que os indianos já tinham descoberto, e por onde se perdeu, se calhar, o mito da nossa ambição e energia como povo.
Mas deixemo-nos de tiradas heroicas que os tempos já não vão para isso.
Força nos pedais e que a monção te seja propícia.
um grande abraço dos habitantes do rocio - ze amante e mulher.

10:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João
As novas tecnologias permitem-nos seguir o rasto dos pneus da tua bicicleta.Muitas vezes me imagino pedalando contigo mundo fora.Acredita que gostava de viver momentos unicos como tu. Desejo que esta pausa retempere as forças das pernas e tambem da alma.Ate breve.Um abraço.TINO

9:11 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home