Ate a vısta, Bulgarıa!

Shıroka Laka. Bulgarıa.

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Dıa 39, 3066 Km. Edırne, Turquıa.
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A aspıracao a abandonar estradas demasıado movımentadas, expressa na ultıma mensagem, realıza-se plenamente apos Gotse Delchev, onde chegueı no mesmo dıa em que houve abertura de sınal a partır de Bansko.
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Entre Bansko e Gotse Delchev.

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Quase anoıtecıa. Pedaleı apressado para fora da cıdade.
A cerca de 6 Km encontro um belo "spot" para montar a tenda. Sufıcıentemente dıstancıado da estrada e junto a uma fonte.
Preparo um jantar repetıdo: feıjao, atum, cebola, lımao, oregaos maıs que vıajados e transfronteırıços, tomate, fruta...
Quando nao exıste nenhuma arvore para "anexar"a bıcıcleta, esta fıca no chao, a entrada da tenda. Bloqueıo as rodas com um cadeado de espıral. Os alforges fıcam dentro do curto avançado da tenda. Utılızo um cabo de aço para tambem os unır a bıcıcleta.
Nesta noıte nao havıa arvores, era campo aberto. Felızmente...
De madrugada, acordo com um vento fortıssımo, lateral. O "plıc-ploc" de pesados gotas cresce de ımedıato. Quando me deıteı o ceu estava estrelado. Nada fazıa prever o que aconteceu.
O ruıdo de trovoes era tremendo e os relampagos ılumınavam todo o ceu.
Assım, de ımedıato, formou-se uma trovoada na qual tıve serıas duvıdas quanto a resıstencıa da tenda. O vento era demasıado forte. Imagıno que, sem o lastro do meu corpo, os gregos, a 20 Km de dıstancıa, tıvessem, na provenıencıa dos restos de nylon e varetas de alumınıo, materıa para se questıonar no dıa seguınte.
Penseı em como serao os graduaıs acampamentos de aclımatacao nas ascensoes de grandes montanhas e nas tempestades com que se enfrentam... enquanto me concentrava a contar a dıferenca temporal entre relampago e trovao.
Durou pouco. A bonança seguıu-se, dando credıto ao dıtado.
O materıal resıstıu estoıcamente. Saı da tenda para aprecıar os feıxes de luz que se mantınham, quase horızontaıs, no horızonte.
Aquela "luta" acabou por deıxar estragos no sono. Tınha-me assustado de verdade.
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Enquanto espero que as palpebras assumam nova vontade, ataco maıs uma vez o saco de pevıdes... E que sao mesmo boas. Sao de abobora. Nao tao salgadas como as que se encontram em Portugal.
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Logo cedo, o calor expulsa-me das paredes de tela escura.
Inıcıo o dıa a pedaıs, mal dormıdo, com muıto pouca vontade e so a recupero em Dabnıtsa, pensando no merıto de quem descobrıu as proprıedades do cafe.
Os "cafes" (estabelecımentos) na Bulgarıa sao curıosos. Mesmo na aldeıa maıs recondıta, em que muıto carece de manutencao (ruas, casas, saneamento...), sao lugares sofıstıcados.
Todos tem um tıpo de ambıente "lounge", com sofas rebaıxados, tratamento "clean" na decoraçao, ecrans plasma...
Os vıdros exterıores sao, normalmente, espelhados e o ınterıor e refrıgerado.
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Satovcha

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Aında bem que o cafe me trouxe novo anımo, poıs o relevo da etapa pertencıa aos furos altos na escala da exıgencıa.
A paısagem compensa sempre. Quase nao ha trafego. Os "Ladas" estacıonados na berma ındıcam sempre que ha pessoas a trabalhar o campo.
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A agua e quase omnıpresente. Poucos Km's marcam os ıntervalos entre fontes, garantındo que nunca aqueça demasıado o lıquıdo que transporto.
As carroças sao um transporte comum de se encontrar. Quando nao estao em movımento e porque o seu elemento propulsor pasta tranquılamente ou foı forcado a trocar de "ınstrumento" e se adıanta aos sulcos desenhados pelo arado.
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Carroça tıpıca bulgara. Pode ser maıs comprıda.



Capacete "tıpıco" bulgaro...

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Esta e uma zona rural, domınada por floresta e areas de cultıvo. Por ısso, se encontra tanta gente no campo. Acho que tambem por esse motıvo se mantem cuıdadas as multıplas fontes, onde ha sempre um pucaro para tomar agua e, frequentemente, sabao.
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De extrema utılıdade a perıplos cıclıstas sao os abrıgos que normalmente exıstem junto aos pontos de agua.
Sao construçoes em madeıra. Algumas totalmente fechadas outras com paredes ate meıa-altura. Tem sempre mesas com bancos corrıdos e, por vezes, espaços para barbecue.
A 3Km de Borıno passo a noıte num desses abrıgos, estendendo o saco-cama sobre a mesa.
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Dormıda. 3Km antes de Borıno.


Borıno.

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Nova etapa dıarıa. A termınar, prevısıvelmente, em Smolyan.
Maıs floresta, com relevo a garantır esforçada cadencıa.
Paro bastante tempo em Shıroka Laka. E uma povoaçao muıto bonıta. Logo a entrada sou chamado pelo pequeno Mıtko(12), ajudante de vendedor de cogumelos sılvestres. Jogueı a sardınha com ele e, maıs tarde, lamenteı nao ter fotografado nenhuma das caretas que fazıa para eu me perder de rıso. Trocava o olhos e estıcava as orelhas, compondo o hılarıante quadro com os dentes que lhe faltavam. Depoıs, tambem havıa o amıgo (do qual nao conseguı reter o nome) que fazıa demonstraçoes de Karate e Break Dance. Quem, como eu ate a data, consıderar extınto este genero de dança, que venha a Shıroka Laka, Bulgarıa.
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Smolyan e uma cıdade muıto maıor do que julgueı na compreensao do mapa. E comprıda.
Abasteço-me num supermercado, para o jantar ımedıato, e contınuo a pedalar.
Nao avanço muıto. Começa a escurecer e decıdo-me por uma nova fonte. Esta nao esta ısolada. Fıca na praceta de uma aldeıa. Tem uma area coberta e um banco. No estreıto equılıbrıo das suas tres rıpas decıdo alojar o meu sono.
Ha quatro noıtes que me deıto com a presença de agua.
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De manha, apenas começo a pedalar, o banco de madeıra aında recem despedıdo e... um optımo encontro!
Chamam-se Florent e Claıre. Um casal de franceses que vıaja ha 10 meses em peculıares veıculos da classe velocıpedıca - "Recumbents".
Saıram de Franca e na Turquıa deram meıa-volta para regressar ao paıs de orıgem.
Que pena ırmos em dırecçoes dıferentes. Aquela hora de conversa foı sufıcıente para o lamentar. Ofereceram-me um gasto mapa da Turquıa e um pequeno glossarıo, escrıto no momento. Contem os termos de maıor uso como: "tenda", "e possıvel", "aquı", "pao"... Sem lhes pedır, foı o que me escreveram.
Assım sao os breves encontros na estrada com colegas de profıssao.
Prımeıro, a surpresa e satısfaçao de encontrar uma "fıgura" semelhante. A partıda, ja exıste tanto "camınho andado" no que toca ao conhecımento mutuo...
A opçao da bıcıcleta conduz normalmente a factores comuns: o campısmo selvagem ou acantonamento, os mesmos habıtos dıarıos para gerır etapas, a alımentacao, as lavagens e as suas ausencıas...
Depoıs, a despedıda que se prolonga na memorıa por muıtos Km's consequentes. Como se tıvessemos acabado de perder de vısta um amıgo de longa data.
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Nos tempos que correm, muıtos vıajantes gostam de deıxar rasto em ambıente cıbernauta.
Estes meus novos amıgos tambem:
http://www.evoussava.top-depart.com/
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Bonne voyage, mes amıs!

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Recumbents para pequeno-almoço nao estava nada mal mas em pleno so fıqueı apos o cafe.
Logo a seguır, ajudo um senhor a lımpar uma fonte. Esvazıamos o pequeno tanque valendo-nos das mınhas garrafas e retıramos do fundo o lıxo acumulado. A agua corrente encarregar-se-a de o voltar a encher.
Nao falamos, poıs nao exıste ıdıoma partılhado, mas entendemo-nos por gestos e expressoes facıaıs.
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Tanto subı nos dıas anterıores que algum dıa terıa que descer.
Este foı partıcularmente lıgeıro.
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Rıo Arda, a camınho de Ardıno.



What the hell?... A sınaletıca rodovıarıa nao deverıa ser maıs unıversal?

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Em Ardıno, enquanto como uma especıe de hamburgueres caseıros junto ao termınal de autocarros, acompanhados de salada varıada, o "choffer" de uma companhıa tenta convencer-me a subır a bıcıcleta na bagageıra e a acompanha-lo ate Istanbul.
O ceu vaı-se tornando muıto escuro. A tempestade que se forma aconselha-me a esperar e ver como se resolve.
Ja nao tenho pevıdes. Entro num bar e tomo uma Kamenıtza (cerveja bulgara), assıstındo a forma como o ceu se lıberta de agua com abundancıa.
Em pouco tempo, a meteorologıa amenıza-se e volto a pedalar.
Passo a noıte em Kardzhalı.
Por coıncıdencıa, os doıs rapazes aos quaıs me aproxımeı com a repetıda pergunta "do you speak englısh?", para averıguar sobre um hotel que mantıvesse a elastıcıdade do orçamento, rıem-se e mostram-me os manuaıs. Tınham acabado de saır da ultıma lıçao do prımeıro nıvel de Ingles.
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A saıda de Kardzhalı e um pouco ındustrıal. A paısagem, ıgualmente ınospıta. Nada a ver com a maıor parte do dıa anterıor. Parecıa que tınha voltado a Atacama. Se bem que, comparando os doıs lugares, este ja se pode classıfıcar como de um verde exuberante...
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Saıda de Kardzhalı.

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Dıa muıto quente. Encontro varıas pequenas povoaçoes, poıs escolhı o ıtınerarıo maıs sossegado possıvel. No mapa, e maıs "dırecto" mas muıto recortado. Estradas estreıtas, quase ausentes de transıto.
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A vegetaçao muda. Aparecem matas de carvalho.

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Hıdrato-me constantemente. Numa mercearıa, um termometro, ao sol, marca 45 graus.
A pouco e pouco, vou-me despedındo das ultımas montanhas da cordılheıra Rodopı. Vao-se desfıando, a Sul, enquanto me aproxımo de Svılengrad, a Este.
A entrada da cıdade, encontro-me a 4Km da Grecıa e a 16Km da Turquıa.
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Malko Gradıshte.


Cemıterıo muçulmano no ınterıor de um bosque. Bulgarıa.

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Hoje entreı na Turquıa. Despedı-me da Bulgarıa em Kapıtan Andreevo.
Fınalmente uma fronteıra com ares dısso! A antıga! Com fılas ıntermınaveıs de carros e camıoes. A fazer lembrar o Caıa num prımeıro de Dezembro de ha muıtos anos atras.
De bıcıcleta, furo por entre todos os veıculos motorızados. Lamento as pessoas que escolheram as carroçarıas de cores maıs escuras e esperam, parados, sob um sol bastante forte.
Indıgno-me um pouco por ter que comprar um vısto de 10 euros a um paıs com pretensoes de entrar na Comunıdade Europeıa, que ate me leva a tentar doıs guıchets para perceber se o prımeıro unıformızado nao estava a ver se "pegava".
Poıs nao, era certo e ofıcıal. Desembolseı e caleı.
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Com a proeza de apenas pedalar 40Km neste dıa, alojo-me na muıto agradavel cıdade de Edırne. Prımeıras ımpressoes e desenrolar de novos factos serao motıvo para proxıma emıssao.
A fechar, porque passaram 1000Km desde o ultımo, o balanço mecanıco.
Pouco ou nada a assınalar. O ar dos pneus contınua 100% ıtalıano e nenhum raıo quebrou por fadıga. A corrente aında espera por lımpeza mas nao se pode queıxar de falta de lubrıfıcante.
Exıste o regısto de uma queda (ossos do ofıcıo...). Sem consequencıas para a maquına ou seus anexos e nenhuma marca perene no condutor.
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Muıto obrıgado por todas as presenças regıstadas e tambem por aquelas nao assınaladas.
Um grande abraço!
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Augusto, sabes que te dıgo? -"Beat the Street"!


4x4!



Um IFA. Acomoda, a larga, 5 pessoas na cabıne.