terça-feira, junho 19, 2007

De volta a floresta.






Dia 34, 2634Km. Bansko, Bulgaria.
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A viagem continua a correr sobre rodas. Estas duas que impulsiono, a par com a gravidade, e todas as outras em que a mao generosa do destino me vai colocando.
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Dia de descanso em Sofia. Visitei tres igrejas ortodoxas e passeei descomprometidamente. A grande cidade acentua as diferencas. Na mesma rua em que estao representadas em superficies comerciais as mais conceituadas e internacionais marcas, tambem a idosa, valendo-se de uma gasta balanca, tenta esmolas a troco da afericao do peso corporal.
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Sofia


A bicicleta muda, temporariamente, de dono.


A melhor compra.
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Sair da cidade, para sul, significa "conquistar" uma ardua e poluida subida de 15 Km. Congestionada, ou nao se tratasse da Nacional 1 que, como uma recta, aponta a fronteira com a Grecia.
Era Sabado, 16 de Junho. Viragem de quinzena. A estrada repleta de idas e voltas a costa grega.
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Nacional 1.


Interior de capela. Junto a estrada.
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Apos 90 Km, abandono esta pesada via. Encaminho-me ao Mosteiro de Rila. Um "desvio" de 65 Km que se revelou uma excelente opcao.
Dos 32 Km ate ao mosteiro, 21 Km sao de permanente subida. Suave, mas sempre a ganhar altitude. A floresta vai-se tornando presenca cada vez mais frequente, assim como um rio que nunca deixa de ladear a estrada.
Nao completo todo o trajecto nesse dia.
Encontro um belo lugar para passar a noite. A "copa" de uma especie de coreto protege-me da humidade nocturna, junto ao rio.
Trago mantimentos em abundancia. Cozinho um menu rico em hidratos de carbono e vegetais, ganho sono observando pirilampos e adormeco a escutar o movimento das aguas do rio.
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De manha, nova etapa no mesmo ritmo de ascensao.
Chego ao mosteiro a meio do dia.
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A caminho do Mosteiro de Rila
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A sumptuosidade do lugar e a riqueza de detalhes eleva-se mais que a capacidade do meu relato.
Por isso, este "post" se apresenta tao abonado de fotografias. O ciclista, deslumbrado com tanto esmero iconografico, terminou influenciado e passou parte da tarde a tentar captar pormenores. Tambem alternou o tempo com visitas a uma pequena janela atraves da qual vendiam "donuts" que sabiam a farturas. Um "tupperware", com furinhos, esbanjava acucar em po e por duas ou tres vezes fiz tilintar moedas na maquina que servia cafe com leite.
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Chamine da antiga cozinha.


Um amiguito.








Mosteiro de Rila.
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Este dia nao estava muito motivado para fazer deslizar a corrente. A placa que assinalava um camping a 1500m derrotou definitivamente a pouca vontade. Instalo-me num bungalow e saio de novo em bicicleta, ja liberto dos alforges. Sei que o alcatrao termina a 7Km e quero ver como e o seu fim.

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Bungalow do camping "Bor".
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De caminho, desvio, a pe, por um estreito carreiro que se interna na floresta. Conduz a gruta onde viveu S. Joao de Rila. Ai esta uma fonte onde os crentes colocam preces em pequenos papelinhos, que depois introduzem entre as pedras.




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A estrada, que nunca para de subir, termina em Kirilova Poljana, com um Motel e poucas casas. Toda a progressao e acompanhada de beleza. Varias vezes encosto a bicicleta para visitar o rio ou a floresta.


Kirilova Poljana.
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No dia seguinte, nova visita ao recinto do mosteiro, a igreja, e novo embate na janela dos donuts. Muito menos turistas e autocarros no parque. Ontem foi Domingo...
O regresso a Nacional 1 e feito quase so a conta da gravidade. Ainda paro para visitar outro mosteiro, bem mais modesto, de freiras. Chama-se Orlitsa (significa aguia femea).
Tem uma pequena capela (S. Pedro e S. Paulo) em cujo atrio os frescos (1853) descrevem a transladacao das reliquias de S. Joao de Rila para o grande mosteiro.

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Entrada do Mosteiro "Orlitsa".






Capela do Mosteiro Orlitsa.
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Ainda na descida, compro um frasco de mel, que junto a um yoghurt caseiro feito a partir de leite de bufala.
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Em Simitli abandono o imenso trafego, para a via numero 19. Espero alivio na conducao.
A direccao e sudeste. Pois... tambem conduz a Grecia e, por isso, nao e muito melhor. Subo duas dezenas de quilometros por uma estrada em reparacao/construcao. O alcatrao quente, recem colocado, agarra-se aos pneus formando una nova camada. Varios trocos em terra batida.
Encontro a noite junto a uma igreja e a uma rica fonte de tres bicas, no cimo do passe de montanha. Ai monto a tenda.
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Estou em Bansko, hoje ainda apenas avancei 15Km. Este e um Centro de Montanha. Alojado nas montanhas "Pirin" parece ser o resort de maior fama.
Hoje ainda darei uso aos pedais. A ver se me livro finalmente desta estrada vermelha e me encontro no enredilhado de estradas amarelas que se estende para Este, quase com Istambul a vista mas com muita montanha a vencer. Felizmente, terei tambem floresta por companhia.
E espero tambem ter a vossa, igualmente preciosa.

16 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá João,
Só esta semana vim visitar o"rádio tamarugo"e estou encantada com estas fotos maravihosas, ainda mais acompanhadas de relatos fantásticos. Quem descreve desta maneira estas maravilhas do mundo tem futuro garantido para além de Fotografo, como "Escritor".Força amigo, um grande abraço e continuação de boa viagem, dos amigos , São e Luis

6:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Oi,
Afinal não sou o único a verificar a tua veia de escritor, acho que tens material que chegue para um best seller...
Grande abraço e obrigado por nos transportares para lugares longíquos com tamanha beleza.
NM

7:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"FOTOGRAFAR, É COLOCAR NA MESMA LINHA DE MIRA, A CABEÇA, O OLHO E O CORAÇAO." ......... (Henri Cartier-Bresson, 1994) .Obrigado por partilhares a tua viagem, Abraço.

7:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ê Jhony Speed.. onde é que tu andas alma errante? como eu te percebo. E a tua mãe ainda quer que a gente te ponha juízo nessa cabeça.A vida é dura man. Não sei onde é que este mundo vai parar.Tou um bocadinho chateado contigo porque ainda só me mandás-te um exemplar das máquinas infernais mas como correste perigo de vida..pronto estás desculpado E era uma Hanomag..calma com a coisa o record do maior numero km num motor sem nunca ter sido aberto é de um milhão e oitocentos mil pertence a um táxista grego e num motor igual ao dessa Hanomag. Mercedes é aquela coisa. Um ABRAÇO e muita pica. Até breve.

12:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lindíssimo...
Bjos, Susana

3:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, meu amor!
Hoje não fui a primeira a reagir, mas li o teu delicioso texto( mais um...)logo ao princípio da tarde. Presumo que não muito tempo após a sua emissão.
Já tinha andado pelos sites sobre a Bulgária e imaginava que andarias por aí mesmo. Eu vou ficando muito mais culta em Geografia, graças às tuas viagens! E orgulhosa dos testumunhos que tu nos dás...Que continues o teu caminho com toda a serenidade que as paisagens te transmitem e que tu sabiamente fazes chegar até nós.
Beijiiinhos. Tia

4:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ola Joao!
Que fotografias tao bonitas!! Adorei esta ultima reportagem! As outras tb! Eu tb estive Bulgaria e adorei! Comida, praia, montanha e igrejas e mosteiros e icones tao bonitos!! Levas-nos ate la com teus relatos e fotografias! Obrigado!! Eu deixei Calcuta e "meus" meninos e agora na minha ultima semana na India vim passear e estou com prima da Ines, Ana! Estou agora em Jaipur, a "pink city" do Rajastao e estou a gostar imenso! Caos e quase igual ao de Calcuta e andar de rickshaw e pura adrenalina! Tb ja andei de camelo, elefante, carro bois, etc!! Agora espero ir ver tigres a um parque nacional e Agra ver Taj mahal e casa!!! Escrevi-te e-mail com mais detalhes!Continuacao de boa viagem, animo e boa pedalada, bons momentos e que possas continuar a partilha-los connosco!Beijinhos! Sofia

12:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pensei que Sofia fosse uma capital com mais extremos modernidade/tradição. Imaginei-a muito hi-teck nem sei bem porquê.

A minha companhia está garantida.
Abraço.

4:37 da manhã  
Blogger ritalynce said...

Olá João,
É tão bom, a meio do dia de trabalho, fazer uma pausa para viajar um pouco. Obrigada.

Beijos e continua bem.
Rita

7:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Por muito que queira valer-me dos pergaminhos,nunca conseguirei igualar a tua prosa.
Se o avo, onde quer que esteja, pudesse ler-te, decerto ficaria tanto ou mais orgulhoso de ti, quanto nós.
Apesar destas ausencias a que nos forças e ás quais, naturalmente, teremos que nos ir habituando, é imensamente reconfortante poderes revelar-nos cada vez mais a tua riqueza interior e o manancial de conhecimentos a todos os níveis que vais adquirindo.
Para além do documento fotográfico, a tua descrição é tão real que consegues transportar-nos aos locais por onde passas.
. E, a par disso, a tua felicidade vai fazendo a nossa O Alasca, plenamente ambientado, parece não dar muito pela tua falta.Vive no seu mundo entre paus e trapos que vem trazendo até á porta. Nada resta das antigas mazelas.
Julgo que deves deduzir que estamos estreando a nova aquisição.
Até o pai já quebrou < o gelo informático> para também poder intervir. A pouco e pouco vai ao sítío...
Continua a deliciar-nos com as tuas crónicas Tamaruguenses.
Um beijo maior que o mundo da Gerencia

4:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João, Adorei as fotos e os textos, este embalo na viagem virtual faz-me sentir também a floresta e os mosteiros da tua viagem. Obrigada por iluminares os olhos que estão no lado de cá e por devolveres clara a espiritualidade que por vezes teimamos em não querer ver.

Beijinhos e força a pedalar!

8:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hey, Joshua!

Desde que li o Cruzeiro do Snark, percebí que 4 anos de estaleiro, para o meu barco, não representavam nada. Aquela proa ainda há-de sulcar muita água e aquele mastro ainda vai sentir a força do vento a enfonar as velas...
Fico contente que nos balcãs tambem haja um marinheiro de água doce que leu o Jack London.
Imprimi a dita foto para mostrar à minha mãe e "vês que não sou só eu?".

abraços, com jeitinho, para não fazer caimbras!

12:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sparrow,

Consegui hoje ler as tuas cronicas, o ultimo post foi o melhor. Tb eu tou no meio de coiotes e cascaveis, tudo ao sabor de 45 graus. Depois te mostrarei as imagens. Amanha rumo para o Grande Canyon. Dormi num jeep (a cair de podre) ouvindo a choraminguice dos coiotes (que a partir de determinada altura ja nao 'e mto interessante) e lembrei tb dos teus locais de pernoita.
Gostei muito das tuas fotos...refrescaram-me... mas como sabes gosto mesmo 'e de ler o que escreves.

saudades

Cotovia

3:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Viva João

Deslumbrou-me a leitura dos seus textos e a visualização das imagens. Encantada fiquei também com a sua capasidade de ver por dentro as gentes com que se cruza. Merece todas as estrelinhas e é um privilégio saber que a Inês e a Susana o têm como amigo. Abraço e felicidades. Vina (mãe)

4:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

digo "capacidade", Vina

4:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João
Visitei o teu tamarugo e gostei muito principalmente porque revi alguns sitios que já visitei como, por exemplo, a Turquia. Gosto do modo como descresves os sítios por onde passas porque parece que os estamos a visitar também.
Continuação de uma boa viagem.
Um abraço
Setembrina Figueira

5:59 da manhã  

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