segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Parque Pumalín


_Acesso ao camping "El Volcán". Parque Pumalín.

Estou em Chaiten (significa "canastro de água"), surpreendido e contente por continuarem a chegar novos ouvintes a esta emissäo e muito agradecido pelas fiéis visitas. Este teclado, como todos, tem as suas particularidades. O acento agudo está na tecla do "grave", este último näo existe (ás vezes será substituído pelo "agudo") e o trema está na tecla do circunflexo (que está em parte incerta).
Os bancos sao de madeira de alerce, toscos, assim como as mesas e divisórias entre monitores.


_Chaiten. Amanhecer nublado, sem chuva.

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Em Hornopirén tomei o ferry como previsto e tive que desembolsar o bilhete da bicicleta, já que nao embarcou nenhuma carrinha que a pudesse carregar no dorso. Antes ainda encontrei o mecanico/pescador e resolvi a pequena avaria.
Estou muito satisfeito com a bicicleta, tem-se portado á altura das provacöes. É muito mais confortável do que julgava, apesar de ser de alumínio, um material quase ausente de flexibilidade.
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A viagem de barco durou as tais 5 horas previstas. A paisagem näo foi muito apreciada pois näo havia quase visibilidade.



_Travessia Hornopírén/Caleta Gonzalo.

Choveu sempre. A estanqueidade dos alforges deve andar pelos 70% o que significou um livro empapado cujas páginas dobraram de volume.
Tenho muito pouca bagagem, que se vai revelando suficiente. As carencias säo contornáveis e as vantagens de pedalar bem mais ligeiro säo mais que significativas. Sobretudo neste tipo de terreno.
No barco conversei com o Juan Pablo, de Santiago. "Mochilero" solitário por acidente. Atrasou-se na partida e acabou por sair depois dos companheiros que já andam pela carretera austral. Também vinham dois cicloturistas, chilenos, bem simpáticos. A sua vontade de pedalar näo é muita e revestem a situacäo de muito humor.
É possível avistar algumas focas exibindo-se com piruetas na água e, pelo menos, um pinguim.
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Chegámos a Caleta Gonzalo ainda com a persistëncia da chuva.


_Rampa de Caleta Gonzalo.

Esta é já uma das entradas do Parque Pumalín. Trata-se de uma área privada, pertencente a Douglas Tompkins (criador da marca "The North face" e actual dono da marca "Esprit"), norte-americano, adquirida pelo mesmo em 1991. O propósito principal é a preservacäo desta área. Existem vários pontos onde é permitido acampar, com equipamentos de apoio. Uma tenda paga 1500 pesos (cerca de 2,5 euros) e por um "fogón" (construcäo semi-fechada, com telhado e podendo ter um espaco para fogo ao centro) cobram 5000 pesos.
Como a minha condicäo é a de "sem-tenda" tive que pagar um destes espacos. Näo é possível contornar esta situacäo já que todo o parque está vigiado como deve ser.


_Centro de informacäo do Parque Pumalín.

O primeiro camping é logo em Caleta Gonzalo e fiquei por ali.
Correspondeu-me o "fogón 1" que está por detrás do centro de informacäo, a poucos metros da rampa do "transbordador".



_Acesso e "interior" do Fogón 1.

No camping esxiste um "Kiosco" onde comprei queijo, fruta, leite achocolatado. Ofereceram-me päo duro pois näo havia outro.
Passei uma bela noite deitado no banco do fogón. Tem cerca de 40 cm de largura. Näo caí, o que significa que tenho um sono... equilibrado.
Antes de adormecer, tomando atencäo aos sons, escutei: uma cascata, räs e a chuva no telhado.
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Amanheceu com chuva, miúda e, aparentemente, com pouca vontade duradoura.
Este dia, tomei Chaiten como meta.
Ainda entrei no camping Caleta Gonzalo, cruzando a ponte suspensa sobre o rio Negro.


_Rio Negro.

Estive a fotografar a casa dos guardas, o "Kiosco", a horta, o mini-aeródromo, as cercas...



_Camping Caleta Gonzalo.

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Pedalar neste espaco é tudo quanto podemos pedir. A estrada vai atravessando pura selva. Há pumas e javalis que desaparecem quando detectam a proximidade da espécie humana.



_Parque Pumalín.

Cruzo várias pontes sobre rápidos rios. Há cascatas junto á estrada.
O piso é bastante bom. Está coberto por uma terra negra e compactado pela chuva. Há menos atrito. Há sempre subidas e descidas, dispostas em muitas curvas.


_Um nome "familiar".

Chega a acontecer pedalar em puro silencio sem que passe um único carro durante uma hora.
Também existem vários "senderos" sinalizados que comecam na berma do caminho.
Entrei em apenas um. Chamava-se "Los Alerces" e o circuito decorria por um bosque desta espécie, algumas com, pelo menos, 1500 anos (podem alcancar o dobro desta idade).



_Sendero Los Alerces.

Quando voltei á bicicleta, uma senhora aproximou-se com um termo de café com leite. Que rica oferta! Era um casal de Oregon, USA. Viajavam com um carro alugado na argentina. "Gabou" o pouco volume do meu equipamento, "queixando-se" de terem o carro demasiado carregado.
Também entrei, para conhecer, no camping "El Lago Negro" e fiz o sendero até á água.



_Caminho de acesso e "Lago Negro".

Depois, visitei o camping "El Vólcan".
Quase no final do parque cruzei-me com alguns "mochileros" á boleia e dois jipes suícos de sul para norte (provavelmente percorreräo todo o continente).
Só choveu nos primeiros quilómetros. O resto do dia esteve nublado, perfeito para pedalar. O ar näo é demasiado frio ao ponto de superar o calor do exercício.
Fui gerindo o pouco päo e queijo que sobraram, já que em todo o resto do parque há apenas um mini "almacen" no camping "El volcán" cujo irregular horário de abertura está sujeito á intermitente presenca do guardaparque.


_Carretera austral junto ao "Lago Blanco". Ainda Parque Pumalín.
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O parque termina cerca de 10Km (seräo? Näo tenho conta/Km e já percebi que nem sempre os meus cálculos andam correctos) antes de Chaiten. Nota-se imediatamente no cuidado da estrada e das suas paisagens. O piso volta a ser muito mais solto.
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Deviam ser cerca de 19h00 quando cheguei. Fui á "caseta de información" onde fui recebido por uma senhora com pouca vontade de exercer o que lhe correspondia.
Cá fora conheci uma senhora canadiana muito simpática com quem falei cerca de uma hora sobre temas variáveis entre a carretera austral, as paisagens do seu país e do meu.
Ela vem de sul para norte e deu-me alguma referëncias sobre o que virei a encontrar. Está há 3 dias em Chaiten, esperando o barco que esta noite fará a viagem para Puerto Montt.
Muitos viajantes tomam este barco desde Puerto Montt e comecam em Chaiten o périplo pela carretera austral. É uma pena que percam a passagem pelo parque Pumalín. Como será uma pena que eu também näo tenha tempo de fazer o desvio a Futaleufu, por exemplo. Há que fazer opcöes mas tentando reduzir ao máximo os lugares que classifico de "para a próxima".
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Decidi que era altura de comer salmäo "en su sitio" e procurei o restaurante mais modesto. Fui bem atendido, o prato era bem grande e a salada "para dois". Com bebida e chá ficou por cerca de 6 euros.
Aí houve uma conversa "inter-mesas" com uma família argentina e carreguei a bateria da máquina fotográfica.
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Ao final do jantar procurei alojamento. Tinha visto um camping á entrada de "Chaiten", frente ao mar.
A escolha näo podia ter sido melhor. Trata-se uma casa com um pequeno espaco de quintal onde se pode acampar. Aí vive Gregorio Bravo, um senhor de 68 anos. É de Coquimbo, norte de Chile. Há dois anos chegou aqui, disposto a um ano "sabático" no sul. Ficou mais tempo. Agora vai mudar-se para Futaleufu, "mais cuidado". Aluga esta casa que foi já construída como espaco para servir refeicöes.
Quando lhe digo que näo tenho tenda e procuro um espaco coberto oferece-me o sofá da sala. Como prefiro dormir ao ar livre digo-lhe que me contento em dormir debaixo da casa, construída sobre estacas para evitar a humidade do solo.
A casa-de-banho é no interior.



_Interior e exterior da casa de Gregorio. Dormi junto á bicicleta.
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Durmo muito bem, apreciando o esquema eléctricos, a canalizacäo e as solucöes de isolamento.
Pela manhä, acordo com os passos de Gregorio no sobrado que me serve de tecto e a música do rádio.
Tomo o pequeno-almoco "adentro". Maior variedade seria difícil. Havia: päo, mortadela, manteiga, compota, "dulce de leche" de compra e caseiro com nozes, frango guisado (resto do seu jantar), café com leite e água quente para um próximo nescafé.
Para completar, sentou-se comigo e satisfez toda a minha curiosidade sobre o seu percurso, o Veräo e o Inverno austral, as madeiras da casa, técnicas de construcäo...
Gregorio estudou Teatro e Artes Plásticas. Tem-se dedicado a formar ateliers de expressäo teatral em escolas primárias. Como sempre teve "parcelas" no norte tem também grande experiëncia sobre "culturas frutales bajo plástico" e enxertias. É uma área de formacäo a que também se dedica.
Conta-me que o Parque Pumalín, para além do seu encanto tem situacöes menos boas. Por exemplo, que quando os terrenos foram adquiridos, todos os colonos que antes aí se tinham estabelecido, incentivados pelo governo da altura a povoar uma área inóspita, foram "expulsos". Também disse que tem havido entraves á construcäo de uma ligacäo terrestre a norte do parque. Assim deixariam de estar dependentes da única, e cara, solucäo marítima.
Por isso em quase todas as janelas de Chaiten se lë: "Camino a Chile, ahora!". Como se, assim isolados, estivessem num outro país. Este entrave nem parece legal pois o território junto á costa, onde pretendem construir a passagem é, forcosamente, público.
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Os 1500 pesos que seriam a tarifa do camping passaram a 500. Disse que näo me podia cobrar tanto por uma situacäo de "hospedagem" täo peculiar. Com o rico pequeno almoco ficou tudo por 2000 pesos (pouco mais de 3 euros).
Espero voltar a encontrar Gregorio. Para a próxima em Futaleufu. Onde me assegurou que também queria encontrar assim uma casa, que reunisse sala e cozinha no mesmo espaco para receber pessoas. Tudo a precos módicos. "A los 68 años no voy a ser milionário".
Dentro de um mës já aí estará. Quem for para esses lados procure Gregorio Araya Bravo.
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Agora, "ala que se faz tarde". Espero chegar a Puerto Cárdenas, junto ao Lago Yelcho.
Um grande abraco a todos. Näo sei quais seräo as possibilidades de comunicar daqui para a frente. Sempre que possa, Rádio tamarugo está no ar.

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

oi...
é só para te mandar um beijo grande.

és a prova de que a alma é tão grande que nela pode caber o mundo inteiro.
por isso espero que continues a descobrir-te nesses mundos


little monster

9:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá meu grande amigo.
Sobre a viagem acho que não vale a pena dizer nada.
Quem tem acompanhado tem visto que está a ser fantástica (tirando aquele precalço do assalto).
Estamos todos com saudades tuas.
O teu afilhado manda beijinhos e anda sempre a falar em ti.
Vê se passas por cá como prometeste, para bebermos umas garrafas de alvarinho.
Um grande abraço para ti da Xana, Palma e Tomás.
Força aí meu irmão.

9:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ah! Já me esquecia...
A todos os anónimos que têm acompanhado esta viagem, o meu agradecimento por darem coragem e ânimo a este meu grande amigo.

9:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Grande João, Espero que daqui para a frente tudo corra pelo melhor...um grande abraço

Nuno Marzia

10:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Johnny!!

Já viste o cruzeiro do sul? Espero bem que sim. Mandei-te um email para o teu endereço da raia. Quando puderes dá uma olhada.

Que fotos lindas...

Grande Abraço do coração da Beira Baixa
João Leopoldo

10:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

OLÁ de novo!
"Fiel", mas já ultrapassada por outros ciberamigos, que não páram de te saudar. Estive a ver mapas da zona onde te encontras e entretanto fiquei a saber mais coisas: aproximas-te de Coyhaique,passas pelo rio Corcovado, deves ter rondado as termas "el amarillo"... As paisagens convidam ! Não está um pouco frio?
Se puderes, telefona na tal modalidade!
Mais beijinhos e boa viagem.
Tia

2:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

João
Vi as novas imagens. Estou assustado com os pumas.o Horácio diz para comprares uma tenda se é que não a tens, para dormires nela.
Go On, Good Luck and be aware.

Da Beira
João, Carlos e Horácio

6:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João!
É bom saber que as tuas pedaladas te têm continuado a levar em direcção a pessoas com um coração quase tão grande como o teu.
As fotos são excelentes e ajudam a crer que a tua aventura é real.
Fico à espera da próxima "emissão".

Até breve!

_PS - O Paulo ainda não deixou nenhum "post" mas pergunta sempre por ti. A preguiça é um mal...

7:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vamos Radio Tamarugo todavía!!!!. Que buenas fotos que estás sacando y que buenas y mejores experiencias estás teniendo. Ves yo insisto que te tienes que quedar un poco más, así te puedes dar una vuelta otra vez por estos pagos.
Te mando un fuerte abrazo de parte mía y de Gaby.

12:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oye Joao como sé que ya tienes nuestros datos escribe un comentario en tu blog.
Un abrazo
Lucy, Claudio, Matías y Mauro

12:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Los Tangos" das fotos dos bairros de San Telmo e La Boca, o café "Café Tortoni", imaginando uma grafonola a "riscar" Gardel e porque não, Piazzola ou até Goten Project. Daqui todos os cenários são possíveis e aprazíveis.

Um abraço


"Obi li"

p.s. Um abraço à famelga e Filipa

11:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ainda insistem que as más posturas e gestos repetitivos são os "culpados" das dores... nem sempre... quando associados a grandes motivações e a um bem estar de alma o corpo é secundário,diria mesmo é "libertado".
Bom caminho

12:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

olá joão!

há muito tempo que não nos vemos... e eis senão quando o isaac me envia um blog teu!
fico contente por seres dos poucos a viver como sonhaste...
um grande abraço, e espero que nos vejamos quando voltares,

ana trigo

2:05 da manhã  

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