(Ainda) Santiago de Chile

Antes de mais... que surpresa! Tantos comentários de tanta gente por aqui. Muito obrigado. A ver se nos continuamos a encontrar. Aprecio muito a companhia. Quem falou em ciclista solitário?
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Se me julgavam de costas coladas num banco de autocarro por 32 horas, julgavam bem. Eu também acreditei no prognóstico e na senhora que ao vender o bilhete me assegurou que näo haveria nenhum problema com o transporte da bicicleta. Tanta certeza ficou por terra, alojada no fumo do autocarro que vi partir, com as bagageiras quase a estalar de täo cheias, deixando-me a mim e a um casal de chilenos com dois sacos de transporte de elefantes e uma caixa bem avantajada onde caberiam três ou quatro televisöes de home-cinema.
Assim, quase à uma da manhä éramos dos poucos passageiros que restavam no terminal (onde pouco antes havia centenas de pessoas entre dezenas de autocarros que saíam para destinos de norte a sul).
De guichet em guichet, tentámos perceber onde faziam a devoluçäo de "la plata" até que nos foi restituída como anunciado.
As perspectivas näo eram grande coisa. Näo tinha pensado dormir em Santiago mas, pior que isso, estava saber como raio levaria o trambolho da bicicleta, mais a carga.
Na verdade, era correcto ser possível o transporte da dita cuja mas como é Veräo há muito mais gente a viajar e estes viajantes chilenos näo säo muito modestos nos volumes com que se fazem acompanhar.
Antes, tinha-me apercebido de alguns hotéis perto do Terminal e bati à porta daquele que me pareceu estar mais "acordado". Hotel Borja.
O preço näo era dos melhores (pelo menos para o orçamento "vagabundo" que prevejo) mas fiquei, para descansar e, já agora, tomar banho.
De manhä, fui ao terminal de carga da mesma companhia onde deveria estar a viajar neste momento (Tur Bus) perguntar se era possível despachar a bicicleta como mercadoria. Está tudo muito bem, está tudo muito bom mas... tem que ir tudo muito bem embalado em cartäo, normas da empresa. - Sabes, se lleva en camión...
Oh näo! E outras companhias, há?
- Si, contornas el edifício y, dos cuadras adelante, está Lit Cargo.
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Em Lit cargo, o mesmo. - Es la normativa de la empresa, todo embalado.
Mas... desta vez veio a brisa da sorte e o rapaz mostrou-se disposto a ajudar-me. Foi ao depósito, trouxe cartäo e durante quase uma hora, dividida pelo atendimento de alguns clientes, embalámos tudo como deve ser. O pobre do veículo viaja mais uma vez sufocado com a vestimenta de cartäo canelado.
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Fiquei assim com o problema resolvido. Comprei outro bilhete e viajarei hoje, 24 horas após a previsäo inicial.
Leve como uma pena andei todo o dia pela cidade e agora estou no caminho de regresso ao terminal onde jantarei pouco antes da partida.
Fotografei a "animita" de Romualdito. ("Animitas" säo lugares de evocaçäo onde terá acontecido uma morte violenta e as almas que se referem a estes espaços tornam-se marginais, vagabundas entre dois mundos. A estas almas säo pedidas intercedências e os favores concedidos estäo expressos em placas de agradecimento.)
Näo parece haver grande consenso no que toca à identidade de Romualdito. Umas pessoas dizem que era um homem de 40 anos que foi assassinado, neste lugar, durante um assalto após recuperar de tuberculose e outras de que foi um rapaz ali abusado sexualmente, resultando daí a sua morte.


_Animita de Romualdito

Segui pela Alameda O'Higgins (via nevrálgica da cidade onde se aprecia particularmente a confusäo do trânsito), cruzei ao Barrio Brazil (bem mais sossegado e bonito, com casas do início do século).




_Barrio Brazil

Ao passar no viaduto pedonal de "calle Huérfanos", sobre uma via rápida, parece que entramos numa outra cidade. Esta é uma zona bem mais cosmopolita, com muito comércio de cadeias internacionais, galerias cheias de lojas modernas, gravatas andantes por todo o lado. Por aí se chega a uma das referências da cidade, a Plaza de Armas.
Os chilenos preparam-se para votar na segunda volta de eleiçöes presidenciais, daí a presença de tantas acçöes de campanha: "Con Piñera se puede" e "Bachelet contigo".


_Campanha eleitoral em Plaza de Armas

Ainda fui ao Mercado central onde vendem e servem todo o tipo de peixe e mariscos, cruzei uma ponte sobre o rio Mapocho que leva à "Recoleta" (zona bem mais pobre onde há mercados de rua e um imenso mercado coberto com uma diversidade de artigos que envergonha os congéneres marroquinos).
Houve lugar para uma sesta no "cerro Santa lucia", um morro, reserva de espécies botânicas, em cujo relevo se construiram agradáveis praças e terraços.
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Talvez guarde uma mais inspirada e elucidativa descriçäo da cidade para quando a voltar a visitar, de regresso. Espero que, por agora, as fotos dêem uma ajuda.
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P.S Obrigado Rui, pelo apoio e por fazeres chegar estas linhas aos meus pais. Esperemos que um dia haja muitas rodas matuzarenses em terras sul americanas.
Obrigado a todos pela surpresa da visita e pela força.
Um beijo com saudades à "gerência"!