terça-feira, janeiro 17, 2006

Vuelve Radio Tamarugo!


_Linha férrea que conduz à ex-oficina salitrera de Santa Laura

De volta, agradecendo de novo a todos aqueles que continuam a escutar a emissäo e a novos companheiros de viagem.
Continuo no meu "Dakar" pessoal onde, à semelhança das primeiras ediçöes da reputada prova em que os pilotos de moto até transportavam pneus a tiracolo, toda a assistência com que conto, à partida, será aquela que fortuitamente pode aparecer. Felizmente, sempre aparece. E aqui, neste canal universal, nem se fala!
A gravidade também se pode incluir neste rol de apoios mas o seu empenho a meu favor é mais que duvidoso. Como o vento.
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Em Arica passei a noite "pré-deserto a pedais" na praia Las Machas, numa zona onde era permitido o campismo e... o botellón!
Näo foi fácil conciliar o sono com vários grupos de jovens chilenos que näo foram à praia para dormir, assim o confirmando o conteúdo etílico das bagageiras dos carros e o investimento em equipamento audio e luzinhas azuis de néon por debaixo dos chassis.
Näo bastando, também houve um encontro de mosquitos que permaneceram toda a noite, mesmo depois da festa acabar.
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Pela manhä, pouco recuperado mas motivado, decido orientar rodas e pedais para sul, prevenido com 4 litros de água, um pacote de massa, outro de queijo ralado e dois "sobrecitos" de sumo em pó (Tipo Tang. Pois a água de Arica, apesar de potável, pela sua componente mineral tinha um sabor que näo me agradava nada).
Triste ideia esta dos sumos instantâneos. Desde entäo toda a água com que encho as garrafas da bicicletas me sabe a laranja ou a ananás.
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À saída de Arica, está um painel onde lê: Iquique > 301 Km; Antofagasta > 723 Km.
Decido que esta cidade em que me encontro (Iquique) seria a primeira etapa (prueba superada) e quanto a Antofagasta, já veremos se até aí me leva a vontade de pedalar, continuando a desafiar este ambiente pouco propício à actividade.
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Tudo foi bonito e rolante (com primeiras imagens desérticas) até à primeira subida, de 6 Km. Pouco tempo levou a minha forma física a mostrar que ainda näo chegou e que grande percentagem ainda continuará perdida e adormecida pelos largos meses em que näo foi solicitada. Na verdade, muita desta energia, que agora chamo e ainda näo aparece, estará já transformada na mesma matéria de que é feita uma cadeira vermelha e incómoda, semelhante a esta onde agora me sento, no mesmo tipo de cenário (iluminada também por estes lindos e luminosos "écrans" que se medem em polegadas).
Em grande parte desta subida poupei ao piso dos pneus todo o meu peso recordando à sola das botas a sua funçäo principal.
Até aí o céu esteve nublado mas, chegando ao topo, já o sol brilhava com todo o seu esplendor e força numa grande extensäo onde era rei e senhor pois nada havia que proporcionasse sombra. A primeira oportunidade que tive de atenuar os efeitos do poderoso astro foi vivida ao mais alto estilo "espojado" numa fina linha de 10cm, debaixo de um painel que já foi "Good Year" e agora dá lugar a "respete las señales".



A pouco e pouco, a linha foi engrossando, assim como a vontade de voltar ao alcaträo movendo-me pela forma usual com que se move a generalidade das pessoas que anda em bicicleta. Isto é, em cima da própria. Näo caminhando e empurrando duas rodas encimadas por um fardo de 40Kg.
A paisagem mantem-se constante. A estrada desenrola-se subindo e descendo ligeiramente, com grandes rectas povoadas de camiöes que de sul para norte têm na sua maioria matrículas bolivianas e transportam carros (muitos acidentados). Sáo carros que chegam, sobretudo da China e do Japäo, ao porto de Iquique. Como é zona franca estäo isentos de impostos (como também acontece na entrada da Bolivia).
As "margens" da estrada säo planas por muitos metros mas ao longe, de cada lado, surgem altos cerros. Tudo é arenoso, descampado e pouco convidativo a ficar por muito tempo.
Abundam as "animitas". Lugares onde alguém encontrou a morte, assinalados por cruzes e pequenos "templos" em metal com telhados de duas águas. É mesmo impressionante o número destas referências.
De igual modo existem lugares de devoçäo, como este dedicado a Fátima.



A iniciar uma assinalada descida de 11Km (felicidade contida pois... se desço, näo perco pela demora da subida, na mesma proporçäo) está um marco que "alerta" para "zona de avistamento de OVNI".



À direita começa a aparecer com maior definiçäo o fértil Vale de Chaca onde chego após a tal dezena de quilómetros bem medida, apreciada e travada pelas pouco eficazes pastilhas "vidradas" dos meus travöes.



Neste vale cultiva-se tomate, feijäo verde, milho, cebola, manga, goiaba, papaia e existem também algumas oliveiras.
A irrigaçäo dos terrenos provem de furos. Dizem existir muita água no subsolo e que as reservas têm volume ainda para centenas de anos.
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Pensava que de Arica a Cuya näo iria encontrar absolutamente nenhum lugar de fixaçäo humana e com agrado encontro esta "Posada Chaca".
Decido "comemorar" esta surpresa com uma refeiçäo. Enquanto a superfície cerâmica do fundo do prato se torna visível emprego também um esforço de preparaçäo para a subida que, certa pelos quilómetros descendentes que acabara de fazer, teria pela frente.




À conversa com uns "camioneros" que chegaram para comer fico a saber que será de 17Km o trajecto em que a gravidade me estará de costas voltadas e decido que 56Km já me chegam por esse dia e que aquele vale é um lindo sítio para dormir. Cuya já näo é para hoje.
Passo a noite junto ao leito seco do rio Codpa-Vitor. De novo, os mosquitos andam nos seus certames estivais e adoram festejar com lautos banquetes à conta do jovem turista.
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Acordo com pequenas gotas de chuva. Ainda mal amanhecia. Afinal, chove no deserto.
De "desayuno" tenho a agradável subida. Arrumo apressadamente toda a tralha cujo revestimento de pó passa ao acabamento "lama" e com todas estas pressas acho que foi nesse lugar que deixei o mapa de estradas.
A subida foi... palavras para quê... é uma subida de 17Km e eu sou... alguém em baixa forma que se deixou iludir por belas imagens a muitos quilómetros de distância.
As poucas bolachas que comi näo deram nem para metade da energia necessária e volvido um terço de täo "placentoso" trajecto (apenas apreciado entre a roda pedaleira e meio metro a seguir à roda dianteira, ou seja, a textura do alcaträo bastante bem reconhecida) parei, com a luz da reserva acesa e a apitar, para cozinhar meia marmita de massa com queijo.



No topo do esforço e do duelo com a morfologia da natureza encontro outra posada (Los Camioneros) onde vários motoristas bolivianos descansam umas máquinas e alimentam outras (as próprias, que levam a força dos braços para o volante).
Peço uma Cola. -"Solo hay de papaya o de oro".
Habituado a Cola... de cola, escolho "oro" pois o símbolo fazia lembrar uma rodela de limäo. Esta bebida, brilhante como o ouro, da marca ariqueña Kola Real é uma mistura gaseificada que sabe a pastilha elástica. (Arghh!) Mesmo assim, näo deixei uma gota, antevendo tempos ainda mais difíceis em que a memória de ter desperdiçado parte de este líquido, pelo menos fresco, poderia barrar um pouco a procura de alento.
Acabei por comer aí, depois de um largo descanso e de assistir a um jogo de futebol (Bolivia/Bolivia) balizado por camiöes de 20m.



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Volto à estrada, vento, camiöes, animitas e autocarros. Quase toda a gente me saúda.
Tudo o que sobe desce e alguns quilómetros depois de "Los Camioneros" está o início da relaxada (e prevista pois já sabia que se descia no final) chegada a Cuya. 21 Km a descer!




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Cuya é pouco mais que uma zona de controlo obrigatório de cargas e passageiros (sobretudo aqueles que vêm de norte, pelo Peru). Abundam pequenos restaurantes, abertos 24 horas. Os telefones apenas permitem chamadas nacionais, internet... "no hay".


_Cuya

Passo muito tempo à conversa com uma senhora que vendia empanadas de marisco aos passageiros dos autocarros. Trazia vestido um impecável avental branco bordeado a renda cor-de-rosa e segurava uma pequena mala térmica. Entre cada partida e chegada sentava-se ao meu lado.
Ensinou-me que o rio que passa junto a Cuya se chama "Camarones" pela abundância dessa mesma espécie. O mar está a 11Km, onde se chega por uma estrada, näo asfaltada, a "Caleta Camarones", uma aldeia pesqueira. No vale também há umas grandes instalaçöes de criaçäo de frangos. Despedimo-nos no momento em que tem de ir repôr a mercadoria à cozinha do restaurante para o qual trabalha.
Um carabinero (polícia do Chile) pergunta se estou à procura de sítio para dormir e sugere que durma detrás da "comiseria", "donde está una virgencita". Era um pequenino templo, debaixo de umas árvores. Gracias señor!
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Ainda é cedo e vou ler para um terraço de cimento (onde me parece que será, afinal, o chäo em que me deitarei).
Passadas 2 páginas, é desta vez um capitäo do exército que me vem cumprimentar. Muito engraçado. Faz perguntas (as habituais: donde venho, se venho sozinho...) e diz que "yo, ni cagado, viajaba asi en bicicleta. En moto, si". Outros militares aproximam-se da "atracçäo do momento".
Muito pouco tempo e muita conversa levam a que já tenha 3 litros de água engarrafada junto à bicicleta, a que tenham levantado a mesma a ver quanto pesa, a um convite para jantar e dormir e outro, feito pelo chefe de carabineros, para mandar parar qualquer carro e "ordenar" que me levassem pelo menos na primeira subida (de 19Km) a sul de Cuya.
Rejeito a última proposta mas tudo o resto foi escrupulosamente aceite e cumprido. Tive direito a um tabuleiro inox com compartimentos para massa com carne, salada de tomate com alho, päo, laranja e uma caneca de chá. A superfície de apoio à refeiçäo foi uma mesa de ping-pong.
Estas eram umas antigas instalaçöes de carabineros e os militares só aqui estavam para controlar e manter a ordem durante o dia seguinte, em que haveria a segunda volta de eleiçöes presidenciais. As mesas eleitorais foram colocadas no colégio.
Dormi na sala onde jantei, sobre um colchäo e almofada militares do "Batallon Logistico - Divisionario n. 6 -Pisagua-", de Arica.



Ao lado estava a camarata de soldados cuja espécie parece que näo dorme e desconhece que o botäo do volume do rádio também gira no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Mas cuja simpatia näo tem limites.
De manhä, lá fora ainda escuro porque a hora näo propiciava luz natural, mas já desperto pelos gritos de uma voz tipo Isabel Pantoja a cantar "escucha-me... sin tu amor no puedo más" trazem-me o pequeno-almoço à "cama".
Fico um pouco a conversar com os soldados que ainda näo tinham entrado ao serviço (as urnas já tinham aberto), falamos sobre o consumo dos Unimog e assistimos a uma luta (um pouco provocada pelos moços de ocre) entre um lacrau e um escaravelho.
Dizem que eles foram escolhidos, de todo o batalhäo de Arica, para estar ali pelo seu bom comportamento. E outro diz, a rir, - "imaginate el resto"!
Despeço-me com uma "foto de família" e tenho que recusar mais garrafas de água mineral e um pacote de litro de leite achocolatado (pelo peso).
Muchas gracias a toda la unidad! Gracias Oscar Quina (#1333) por todo apoio y atención!



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"Cargado a tope" dou início a mais um dia "de carretera" sempre antevendo, com a vontade em nível rasante, o momento em que chegaria a subida de 19 Km.



Mais uma vez, puro deserto. Pouco trânsito. O céu nublado, como convém ao périplo (dizem que está assim porque chove na Bolivia).

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E agora, Carlos Tomás, Urânia Sampaio, cheguem-se à frente e expliquem como acontecem estas formaçöes. Näo voltei a encontrar. Demorei-me nas fotos.



Quase a chegar à ponte do rio Chiza encontro alguns turistas argentinos que väo a caminho de Machu-Pichu num Tour com duas carrinhas. Perguntam-me até onde vou e respondo com um encolher de ombros. Uma senhora diz: - "Ay, que hermoso!". (?)
Páro na ponte e decido que a subida näo é para mim. O sol já aquecia como lhe corresponde (tinha feito 22 Km desde Cuya). Vou tentar que me levem.
Pego num punhado de pedras, disponho-as em linha e penso: se for número par, vou ter sorte. Conto 14. O futuro virá de feiçäo.
À quinta carrinha (e p'raí uns 45 minutos, sem sombra)... nada.
Valem-me os geoglifos de Chiza para equilibrar a devastadora visäo da subida que tenho pela frente.


_Geoglifos de Chiza

Os geoglifos de Chiza säo figuras desenhadas pelo agregado de pedras vulcänicas sobre o solo, mais claro, feitas pelos povos pré-colombinos (associados aos anos 1000 a 1400 d.C, época de intenso movimento no local). Representam figuras humanas, animais e símbolos.
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Passados 9Km de ter decidido começar a subir (quando consenti que o teste das pedrinhas valia... o que valia) eis que, sem pedir, pára uma carrinha para me levar.
Viva a fábrica da Hiunday! O concessionário que a vendeu e os jovens que a levavam! (vinham de Arica).



Viajei na caixa com um senhor que tinha votado em Cuya e aí apanhou esta boleia. Vai para Huara, respondendo a uma solicitaçäo de trabalho na empresa que anda a reparar a estrada.
Os rapazes iam para Pisagua e no cruzamento em que deixam a Ruta 5 é onde nos apeamos. Foram uns belos 20 Km à decente velocidade de um veículo näo dependente, quase por inteiro, da energia humana.
Pisagua também seria interessante de visitar. Fica junto ao mar e possui marcos históricos. Sobretudo da história recente. Existe um hotel que foi uma prisäo do tempo da ditadura. Tenho que fazer opçöes e, por enquanto, a Ruta 5, orientada a sul, será o terreno por onde me moverei.
O senhor, companheiro de compartimento (de carga) continua caminhando. É um verdadeiro optimista. Diz que já falta pouco e propöe-se caminhar por 47 Km.
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Tenho credíveis informaçöes de que até Huara já näo há subidas e resolvo ficar um pouco no cruzamento até o sol deixar de estar täo alto.
Junto à "posada" ("posadas" säo lugares para comer, näo dormir, junto às estradas e em lugares isolados) e aproveitando a sua sombra, refrescada pelo vento, dou mais uma fiel e criteriosa demonstraçäo do estilo "espojado".
Pouco tempo estive neste exercício. O senhor da posada veio perguntar se já tinha almoçado e à minha negativa resposta seguiu-se o seu convite.
Estava sozinho, as cozinheiras e o sogro (dono do estabelecimento) tinham ido votar a Camilla. Fez almoço para ele e sugeriu que eu partilhasse o que tinha sobrado.
Era uma rica "cazuela de vacuno" (sopa de carne com vários vegetais), salada (só de cebola temperada) e päo.
A sua verdadeira profissäo era a de camionista. Muito simpático.
Entre outras coisas, contou-me que o deserto está cheio de água no subsolo. Que ali mesmo para encontrar água, doce, basta perfurar a 20m. -"Hay harta água. Para dos mil años!". Explicou-me que os camiöes carregados de verduras que passam por mim, vindos de norte, trazem a produçäo dos vales de Azapa e Lluta (vales férteis junto a Arica).
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O tempo é também de pedal e esta noite será passada em Huara.
Poucos quilómetros depois do cruzamento em que abandonei a boleia e tive täo agradável conversa surge o protagonista deste endereço: o Tamarugo!
Esta espécie resiste a condiçöes muito severas, é endémica do deserto de Atacama e encontra-se protegida. Já foi muito utilizada para fazer carväo, pela dureza da sua madeira. Dizem que "busca el agua", pelo facto de as suas raízes escavarem profundamente até encontrarem alimento.
Este primeiro "bosque" que encontrei já faz parte da reserva "Pampa del Tamarugal".


_O arbusto.


_O fruto (a espécie reproduz-se por sementes)

O solo era todo de caliche, o material de onde se extrai o salitre. É quebradiço e ouvem-se contínuos estalidos, a fragmentar-se.


_O caliche

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Desvio 2Km da Ruta 5 para visitar o sítio histórico da "Batalla de Dolores" que aconteceu durante a Guerra do Pacífico e onde as tropas chilenas derrotaram as aliadas tropas Peruanas/Bolivianas em 1879.




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Em Dolores pude apreciar os furos para captaçäo de água.




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Antes de Huara ainda há lugar para mais uma sesta no deserto (apesar de ser terreno plano, o vento andava a ver até onde ia a minha vontade).



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Cheguei a Huara já ao cair da noite. Soube que tinha ganho Michelle Bachelet e pelo humor dos presentes desconfiei que näo eram apoiantes. Comi uma sandes de "carne mechada" (espécie de bifana) no lugar que me pareceu mais barato.
Esta fotografia foi feita no momento em que saiu o único senhor do restaurante. Era também dono de uma oficina de reparaçäo de pneus. Àquela hora da noite chegou um cliente (da caravana que comemorava a vitória da candidata).



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Dormi na área coberta de um campo de jogos. Näo longe havia uma festa, por Bachelet. Mais uma vez, foi uma noite com música.
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_Imagens de Huara e "vestígios" de campanha.


_Igreja de Huara

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A poucos quilómetros de Huara, no meu dia de viagem a Iquique, encontro as primeiras ruínas do que foi uma oficina salitrera. Este é um dos muitos testemunhos que restam de um intenso período de trabalho no deserto e que constituiu uma das principais fontes de economia chilena, tendo o seu período de glória nos últimos 50 anos do século XIX e primeiros 25 do século passado.
O impulso "salitrero" foi dado pelo alemäo Tadeo Haenke em 1809, com a invençäo de um processo para extrair ao caliche o salitre potássico. Cerca de 1830, o salitre começou a ter uma grande procura por parte da Europa para ser utilizado como fertilizante na agricultura.
Quem näo conheceu os azulejos que diziam "Adubai com Nitrato do Chile"?
Entre os anos 1872 e 1876 já existiam mais de 55 oficinas que estavam principalmente em mäos de peruanos e chilenos.




_Ex-oficina Santiago

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Adiante está, convertida em museu,a ex-oficina de Humberstone, junto ao cruzamento que afasta da Ruta 5 quem se dirige a Iquique, pela A16.
Esta oficina deu início à sua actividade sob o nome de la Palma, em 1872.
Foi vendida ao governo peruano (1877) e de novo resgatada pela companhia privada (The Peruvian Nitrate Company)em 1890.
Em 1932 paraliza a sua actividade devido à crise do sector.
Uma outra companhia torna-se proprietária deste espaço em 1934 e baptiza-a com o nome do seu fundador: Santiago Humberstone.
A partir de entäo e até 1940 alcançou o seu máximo desenvolvimento, chegando a albergar uma populaçäo de 3700 habitantes.
Paralizou completamente as suas actividades em 1960, sendo declarada Monumento Nacional uma década depois.
É possível visitar os espaços (ou o que resta deles) do que terá sido uma enérgica comunidade, com todos os seus serviços (hotel, teatro, biblioteca, piscina, mercado coberto, igreja...).
Em algumas dependências leêm-se escritos de visitantes ex-residentes, esclarecendo quanto à composiçäo familiar que habitou aquele espaço. Por exemplo: "Este fue nuestro living. Hasta el cura Jimenez se ponia a bailar".


_Entrada do complexo


_Fábrica e venda de gelo


_Campo de jogos da escola


_Interior de sala de aula



_Cine-Teatro (totalmente em madeira) e "hall" de entrada


_Piscina (em ferro)


_Campo de ténis


_Coreto


_Interior de habitaçäo de "casados"




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Quando acabo de visitar o complexo museológico dirijo-me à "posada" que está em frente. Constato que já o foi e agora é, somente, a casa de uma senhora e de 5 cäes que me copiam o melhor do estilo horizontal das tardes.
- "Aqui no hay nada. Solo en Iquique. Hasta allá es puro desierto"
Puro deserto entäo terei que vencer (47Km) com as galletitas e a água com memórias de fruto concentrado.
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Pior que o sol abrasador foi o vento que expressou com vivíssima voz a sua intençäo de me moer o juízo em pequenos bocados levando-o de mäos dadas com o ânimo.
Este "crime" de desafiar as forças da natureza acabou por compensar e os últimos 15Km foram feitos a descer (näo estivesse Iquique ao nível do mar).
Aqui cheguei depois de 4 dias em que o corpo só viu a água que ingeriu; o que fez com que me tornasse num poderoso "atractor" de insectos, menores e maiores.
Ainda encontrei forças para procurar um hostal que correspondesse às características do "projecto" (eh!eh!). E muito feliz estou com o achado.
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P.S. Näo me canso de agradecer a todos os que aparecem e se expressam das formas mais bonitas e encorajadoras. Perdoem näo personalizar as respostas que merecem mas este post levou muito mais tempo que o previsto (sobretudo o carregamento das imagens) e a saturaçäo está uns furitos acima do limite. Estou há 7h16m51s, ininterruptamente, neste lugar de internet, abafado entre cortinas.
Este esforço é para vós e espero que continuem adictos de "radio Tamarugo" nas suas emissöes desde "el puro desierto" (que se vai vencendo a golpes de pedal e de bota!).
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Acho que duas ou três palavras aparecem permitindo o acesso a links que näo säo da minha responsabilidade. É um "bug" que näo consigo evitar.

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá, meu herói!
Estou emocionada ao acabar de ler este enorme relato. Ainda me surpreendes com a tua força anímica, a tua abertura ao outro, a tua curiosidade pelo diferente, a tua coragem ... Que grande lição de humanidade ! Mas sofro com o teu sacrifício físico e preocupa-me saber que podes exceder-te. Promete-me que o não farás.
Desde ontem, 2ª feira,tenho procurado notícias do "tamarugo" vezes sem conta. Tinha a certeza de que hoje não viria ao teclado em vão. Já comuniquei a P Sor que havia notícias abundantes.
Um beijo muito terno e as saudades minhas e do tio.

1:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

João...acabei de sentir "cá dentro" um bocadinho do teu extremo cansaço, da tua sede, da tua fome, da tua excitação,da tua timidez carinhosa ao aceitares o que essas pessoas maravilhosas te oferecem, do teu alívio...da tua paz...do teu sossego...imagino como deve ser delicioso ao entardecer respirar fundo e olhar o céu...aguenta-te!...e um grande obrigado!

beijo grande
ana t

3:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Àh grande João, que bela crónica nos trouxeste desta vez.
A gente até fica estafado c/ a imagem dessas subidas... 17 KM?, livra!eu faço ideia que quando começas a descer até preferirias que fosse sempre a direito, não é?
No entanto o que mais me toca é a riqueza humana dos teus contactos: a senhora que vendia as empanadas de marisco; os camionistas; os comerciantes isolados; os guardas...e só de pensar que há 35 anos no dia 11 de Setembro esse povo ficou a ferro e fogo com um dos mais sangrentos golpes de estado e durante mais de 20 anos viveram no sobressalto de assassinatos, torturas, violentações, eu sei lá que barbaridades enormes não sofreram milhares de pessoas,de Neruda a Allende, idosos,jovens, trabalhadores anónimos, estudantes, operarios, intelectuais, ninguém escapava ao simples facto de não pensar como eles... e tu, agora, a conviveres com eles, vitimas e agressores, sabe-se lá, e a sentires, certamente, neste período de eleições, um pouca ainda dessa desconfiança mas também de muita esperança, tal como nós vivemos aqui no 25 de Abril. Não ligues, sou eu que às vezes ainda divago com o lado esquerdo da m/ personalidade.
As fotos fazem lembrar aquela zona de Espanha antre Cartagena e Almeria. É só pedra, rocha e calhau, livra! e o que vale é o colorido forte das pinturas das casas,dos muros, das viaturas, são os vermelhos, o amarelo o verde, vê se bem que estás no hemisferio Sul e c/ forte componente indio sul americano.
Termino com o desejo que tudo continue bem contigo. Cautela com os mosquitos.Eu sei bem o que é o Paludismo. Previne-te com o quinino ou coisa do género.Um grande abraço e até breve.
Luis B

3:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Porque não queremos que deixes de sentir um "colinho", aqui vai mais um "balãozinho de oxigénio".
Por agora vamos tendo as ruas sempre animadas com a "música" das promessas presidenciais.
Também cá nos chegou a notícia da recente eleição chilena. "La Michelle" conseguiu convencer todo esse povo!
Oh João, pelos vistos, o "Botellon" já chegou ao Pacífico!!... Não era preciso ires tão longe para estares no meio dele...
Já experimentaste a nova tenda? Ou tens dormido na "Pensão Estrela"?
E o frio nocturno?
Temos tido neve no Norte e Serra da Estrela e a feira de Domingo quase não existiu porque choveu todo o dia.
Então o "tal" cartão internacional não dá mesmo nada? É mesmo motivo para reclamação, uma vez que não satisfaz o fim para que foi comprado. Vai tentando e fala sempre que quiseres pelo número que te demos.
Toda a sorte do Mundo é o que te desejamos.

8:55 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Após postar o "recado" da Gerência chegou a minha vez!
Já há uns dias que andava preocupado com o facto da minha homepage não sofrer actualizações...
Vejo que corre tudo relativamente bem e que estás bem entregue a essas gentes hospitaleiras que te "aquecem" no meio do deserto.
A gravidade é algo contra qual nós, homens do pedal, constantemente travamos batalhas e acredito que esses desníveis de que falas sejam algo custosos a ultrapassar mas também sei que não há sensação como a de chegar ao topo de uma dessas infindáveis subidas e olhar em redor!
Quero felicitar-te e relembrar-te (pois dizer-te já o devem ter feito) que tens o dom de nos conseguir transpor para as situações relatadas com uma clareza e nitidez incomparáveis, fazendo mesmo sentir a tua sede e cansaço, transmitindo-nos assim alento com a tua determinação e vontade de viver e conquistar a pedal ou "à bota" novos horizontes.
Se bem que muitos "ni cagados" entrariam nessa aventura, ainda por cima sabendo que se recebe o pequeno-almoço na cama de um soldado ao som de Isabel Pantoja a cantar "escucha-me... sin tu amor no puedo más" te desejo boa sorte e por favor vai continuando a dar notícias pois o "rádio Tamarugo" já tem mais ouvintes e fiéis seguidores que possas imaginar (por isso essas 7 horas e tal online fazem as delícias de muita gente directa ou indirectamente)!!!
Votos de boa viagem até (agora encolhi eu os ombros e franzi o sobrolho)...
Que Deus te guarde.

9:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Esqueci-me de referir, apesar de achar tratar-se de um dado adquirido, que todas as actualizações são automaticamente transmitidas à "Gerência"!
Um abraço e Força!!!

9:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hola Joao!!!!, que gusto que me da leer todo lo que escribes (aunque tardo un poquito, je je), ya te puedes dedicar a escribir un libro con todas tus experiencias y vivencias ciclísticas. Me parece espectacular lo que estás haciendo y sobre todo en las condiciones. No aflojes, seguí adelante!!!!.
Un abrazo muy fuerte de parte de Gaby y Daniel.
Esperamos verte pronto y adelante Radio Joao!!!!!.

6:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hesitei muito antes de te deixar este comentário. Li o relato das tuas peripécias mais recentes há dois dias, mas não quis deixar aqui um “olá” vazio de sentimentos. Parecia injusto perante os teus “relatórios” detalhados.
Apesar de já não te ver quase há um ano – como o tempo passa! – esta tua aventura fez com me sentisse mais próxima de ti agora, que estás noutro continente no outro lado do oceano, do que quando estavas a apenas duas horas de distância. Saber que não te posso visitar quando me apetecer, nem que seja para deixar um recado colado na tua porta, torna as coisas muito mais difíceis. A preocupação é constante. Descobri que por detrás dos pensamentos rotineiros, tenho um compartimento secreto onde fica escondido o desassossego de te saber em viagem sozinho. Daí a minha dependência da Rádio Tamarugo.
Aguardo ansiosa pelo regresso das tuas crónicas, ou não fosses tu o “locutor” favorito!

Até breve.

7:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Viva, João
Também faz parte da reportagem e do interesse dos leitores, informações sobre os preços e outras cusquices. Ora diz lá quanto é que custa aí 1 Kg de camarones, pescaditos, bacalao,1 cabaz de compras, hortaciças, fruta,1 refeição, habitaciones, bus, jornais,gasolina,salarios,etc.
Resolvem-se bem os problemas de cambios? e sobre a segurança é o mesmo de cá? Os "técnicos de parqueamento" são identicos aos de cá? Mais ou menos? Muito turismo?
Coisas banais deste género para a gente poder relacionar e sentir com os teus olhos, já que há revistas, internet e muita informação s/ o Chile.
Continuação de boa viagem,
Luis B

6:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A vida tem destas coisas: passamos o tempo a pedalar, em caminhos com muitas subidas e algumas descidas. De facto o que muda é a paisagem, mas de resto somos todos andarilhos.
Esta semana tive que subir uma ladeira quase tão grande como a tua que só agora, a meio do caminho, arranjei um tempo digno para ler e sentir a aragem do vento de frente do que relatas.

Mesmo que a seguir à curva da estrada, lá em cima no fim da recta, tenhas que continuar a subir, respira fundo e sente que cá longe há uma série de mãos a empurrar-te!



[...]
Run-Run debió cruzar
Run-Run siguió su viaje
llegó al Tamarugal.

de Violeta Parra, "run-run se fue pa'l norte"

p.s. dou-te uma ajuda: para subires encostas infindáveis canta qualquer coisa ao ritmo da cadência dos pedais. A canção que mais gostares...


Agasalha-te!

7:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá companheiro do pedal sou da Ponte e assim que soube da tua aventura não pude deixar de ir ao teu blog, após ler estes maravilhosos relatos da tua experiência que e um sonho de muita gente mas que só alguns tem a coragem de realizar, como tu, fique fascinado pela tua expedição e espero acompanha-la ate ao fim.
Continuação de boa viagem.

JCL

9:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João, pois cá estou deste lado, maravilhada com os teus relatos e com as personagens que vais encontrando. Espero que não te faltem as forças. Aliás não podes, já somos muitos para dispensar o teu relato e a janela que nos abriste já não se pode fechar. Adelante comandante. Beijinho
Paula N

4:46 da tarde  
Blogger EMBLING said...

Yo soy unos de los soldados que se encontro contigo. Donde quiera que estes, te deseo suerte.

3:36 da tarde  

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