quinta-feira, janeiro 12, 2006

Arica



E agora sem os "tiles"...
- - -
Ehh Pena! Pois é, és o autor da foto a preto e branco. Tínhamos acabado de despedir o ano de 1993, dando cabo do galheteiro acabadinho de oferecer. Eu estreava a, reputadamente fiável, Órbita "Big Fork"; cuja "fork" nao resistiu a uma "big" queda que levou a clavícula pelo mesmo caminho.
- - -
Nao é possível sentir-me mais acompanhado. Por favor, nao me deixem em paz.
A responsabilidade aumenta. A de transmitir relatos mais vivos e procurar tomar mais atençao a pormenores. No final, ganhamos todos. Para mim é muito mais enriquecedor pois é um exercício de revisao de tudo aquilo pelo que vou passando e ao mesmo tempo espero que este esforço de partilha vos proporcione bons momentos.
- - -
Já estou em Arica.
Na partida de Santiago voltou a haver o espectáculo da tentativa de inclusao de bagagem monstruosa e pelo menos um casal ficou em terra com dois sacos da altura de frigoríficos de 130 litros,rematados no limite da tensao dos fechos. A viagem até foi bastante confortavel tendo em conta a previsao calculada numa base de proporçao "estopada de tempo/espaço físico disponível". Vi o filme "como perder um homem em 10 dias" duas vezes e meia, duas vezes "Escola de rock" e um episódio dos "X files". A cerca de tres hora da chegada a Arica rebentou um pneu (será que a carga tem alguma coisa a ver com isto?). Mal nos apercebemos porque devia vir quase toda a gente a dormir. Acordei uma vez com o macaco a elevar o autocarro, outra vez com uma tentativa de locomoçao com um pneu desfeito (o que resulta numa cadencia característica) e outra vez quando finalmente o "comissário de bordo" nos avisa que está um outro autocarro estacionado atrás que é para onde devemos fazer o transbordo. Estes chilenos sao impecáveis. Concerteza já estariam fartos de trabalhar na tentativa de resolver o problema do pneu (via-se bem pelas marcas da intersecçao das camisas engomadas com o alcatrao da Ruta 5) e quando nos decidem avisar já o segundo autocarro está practicamente carregado com as bagagens de todos os passageiros. Ve-se que estao exaustos mas mesmos assim mantem a cordialidade e a responsabilidade. Aliás, durante toda a viagem assim foi, rigorosos nas paragens e atenciosos com toda a gente, apesar do tempo da viagem ser bastante longo (havia um "comissário de bordo" e dois motoristas que trocavam assentos de 5 em 5 horas).
- - -
Cheguei a Arica às 8h00. Fui a Lit Cargo e disseram-me que o vulto velocipédico só chegaria pelas 16h00. Tenho andado a pé pela cidade. Trata-se de uma extensa massa urbana que se estende por um vale rodeado de grandes montes arenosos, acabando na costa do Pacífico.
O ponto mais característico, morfologicamente, é um morro (El Morro de Arica) onde se situa um museu histórico e militar, com especial referencia a uma batalha entre tropas chilenas e peruanas (7.6.1880). Até 1929, Arica era território peruano. Foi tornada pertença do Chile por um acordo durante a guerra do Pacífico.


_El Morro de Arica



_A vista que proporciona.

Como factos curiosos estao tambem 2 exemplos arquitectónicos, obras de Eiffel. A ex-Aduana de Arica foi projectada e pré-fabricada em Paris e aqui foi montada em 1874 com finas paredes de tijolo (também construídos numa fábrica deste mesmo engenheiro, como comprovam os visíveis selos) encaixadas entre suportes de metal. Ahora alberga a Casa da Cultura.


_Ex-Aduana de Arica


_Escada que leva ao primeiro piso da Ex-Aduana de Arica


_Em frente está a estaçao de Ferrocarril de Arica a La Paz (Bolivia)

Outra marca de Eiffel a visitar é a Igreja de San Marcos. Originalmente foi encomendada pelo governo peruano para um "Balneario" (estancia balnear) em Ancón, a norte de Lima. Mas, esta obra pré-fabricada em Paris entre 1871 e 1875 acabou por ser implantada em Arica (Peru, na altura) em 1876 porque nesse mesmo ano um maremoto havia destruído a anterior igreja (da qual se mantem a escadaria de acesso). Esta sólida estrutura suportou o seguinte maremoto (e até agora, o último) de 1877. A igreja é completamente de metal (à excepçao das portas, em madeira). Nas paredes foi dado um tratamento de modo a "acalentar" o efeito do material.



_Iglesia de San Marcos

- - -
Comi num pequeno restaurante (um "bitoque" com um prato de salada e uma cola de 0,5 litros por menos de 3 euros) onde todas as senhoras tinham bigode e a "chefe" se interessava muito por máquinas fotográficas.
- - -
Às 17h00 fui a Lit Cargo e lá estava toda a tralha. O gerente e um dos empregados interessaram-se muito pelo projecto ciclista. Convidaram-me a montar tudo nas suas instalaçoes, deram sugestoes para o itinerario, recomendaçoes acerca do frio das noites e nao deixaram que saísse sem as garrafas cheias de água.
- - -
Ana Teresa, as pessoas, como tento transmitir, sao muito afáveis. Nao sao "metidas" respeitam muito o espaço dos outros, mesmo com toda a pinta de turista (americano, infelizmente) e quando solicitadas é de esperar sempre uma calma simpatia. Nao é nada difícil encontrar sorrisos de resposta (bem, como aqui, em Tamarugo).
- - -
Amanha, começará, provavelmente (porque tudo é relativo), a primeira etapa ciclística. Esperam-me 90 Km de deserto até à primeira povoaçao com abastecimentos.
De todas formas, nunca estarei sozinho. Há uma única estrada a atravessar este ambiente.
- - -
Nao sei quando voltarei a actualizar este blog, depende dos lugares que encontrar.
Certamente haverá imagens bem mais arenosas, a ilustrar a primeira parte do subtítulo de "Tamarugo".
Até lá, espero que continuem a comunicar.
Um grande abraço para todos. Um forte beijo à gerencia (que com tao lindas palavras levaram as minhas) e, claro Feli (tenho-me esquecido de contar. Sabes quem vi, em Madrid, na fila das Lineas Aereas Argentinas? O Fito Paez. É verdade!), os papelinhos!! Começei logo a descobrir quando montava a bicicleta no aeroporto. Também nao há palavras para a surpresa. Estao guardadinhos para as subidas. Ah! Urania! Tu também!?

- - -
P.S _ Rui, mais uma vez, obrigado.
Sara, continua as visitas frequentes porque sao muito bem-vindas. Depois pensaremos na terapia. (A diferença horária é: -4 horas do que em Portugal).
Zé, vou-me concentrar na votaçao. Por agora inclino-me por Bachelet. (Ela diz que está comigo. eh! eh!).
Pedro, obrigado pelo encorajamento da prosa. Um grande abraço.
Luís, parece-me que também gostaria de andar por estas terras. Por enquanto, fico muito contente que tenha embarcado em "Viajes Tamarugo".
Tia, continua a aparecer. Um beijo. (Estás a ver que estas "maluqueiras" vao valendo a pena? Ah! tens que responder junto ao texto mais recente).

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Em boa hora te encontro! E já vais em África? Como voas! Estou encantada por te acompanhar na tua viagem. Tenho apenas um problema. È que nao sei muito bem qual é o percurso que tens traçado. Fiquei espantada com a passagem de santiago para áfrica. Será que ainda haverá mais surpresas? Beijinhos, estou contigo!

4:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara anónima, não é "áfrica" mas sim "Arica", no norte do Chile, junto à fronteira com o Perú.

Um abraço Joe, agasalha-te.
"El viento de la noche gira en el cielo y canta."

1:50 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"O viajante ainda é aquele que mais importa numa viagem."

Olá João! Cá estou eu outra vez... (a hipótese de terapia não está posta de parte...)

As tuas "estórias" estão cada vez melhores e não me canso de as ler. Uma, duas, seis vezes! Com atenção, para não deixar escapar nenhum pormenor, nenhuma rua, nenhuma casa, nem sequer um grão de areia.

Até breve!

2:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

OLÁ, meu amor!
Também estou a aprender muitas coisas contigo, incluindo a descoberta das tecnologias que não me atraem particularmente, como tu sabes.Estou "dependente " deste blog que a toda a hora consulto avidamente.
Boa viagem e sê prudente. Muitos beijinhos Tia

2:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

João, há já mais de um ano que não ouvia Joaquim Sabina...o sentimento nostálgico "apoderou-se" de mim ontem, por volta das oito e meia da noite, quando cheguei à rodóviária em Lisboa (vinda de P.sor) e corri para a casa de banho para "aliviar" o stress :) acumulado...lá tocava, no último local onde eu pensava ouvir...Joaquim Sabina a saír das colunas do WC "do Expresso"...fiz um sorriso de orelha a orelha e pensei...lá está...força joão...

beijo grande
ana t

4:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

João! Sou eu, a Ita! Só cheguei agora! Será que ainda te apanho? sabes que eu não sou muito dada a viagens. Mas fico muito contente por poder acompanhar-te, aqui sentada.
E agora, regresso ao trabalho. Nem todos podem ser assim perseguidores de sonhos, como tu. De volta à realidade deixo-te um beijo,

Ita

7:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Árida!!! Agora sim! Que vergonha! (Obrigada pela chamada de atençao pena!) Ainda estive um bom bocado à procura da lógica, mas a surpresa (Pensava que partias apenas a nove!), o entusiasmo, a alegria de ver-te já a seguir caminho ao teu encontro distraiu-me … e não me deixou esperar por uma leitura mais atenta. Sinto-me feliz por voltar a descobrir-te! E, como te disse no último e-mail, a tua escrita “agarra”. E cá estou eu, a aprender contigo novamente, como sempre acontece! Beijinhos enormes, enormes!

8:14 da tarde  
Blogger Pedro Coutinho said...

Olá João. (sou o Sub, amigo do Paulo e da Sara) Ainda esta semana, não sei a que proposito e com a memória bem ilustrada de algumas imagens da viagem à Patagónia que vi uma vez que jantamos juntos, falava com alguém acerca de este tipo de aventuras. Um tipo que normalmente todos temos no confim da alma e uns o remetem para tempos passados, outros sonham para o futuro, e eu... eu conheci um tipo que fazia destas coisas... bem, fiquei contente por saber que ainda fazes destas coisas. Boa sorte para a viagem, e espero que possas receber aguma brisa fresca nesta tua proxima etapa. Um abraco (não tenho cedilha neste teclado)de Rovaniemi-Finlândia. Sub

10:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João, sou a Paula N. A tua querida contou-me da aventura e claro estou encantada! E tb com uma pontinha de inveja por saber que nunca terei hipóteses de fazer essa viajem, pelo menos de bicicleta, pois não sou lá muito boa nas duas rodas. Mas tou a torcer muito pelo próximo post, que espero, não demore muito. Esta ideia de fazer o diário da viajem é simplesmente fantástica. Força, força, força! Um abraço
Paula

11:55 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cara Anonima que o pena corrigiu, não é áfrica nem arida, mas ARICA. Por favor assine para que se saiba quem é...

E continue a escrever.

Obrigado

A GERÊNCIA

4:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Isto é uma mensagem pequenina de amor.
Os leitores mais sensíveis deverão passar à frente, sem passar pela casa da partida.
Obrigado.

Jonny
Muitos beijos. stop.estou a trabalhar mas continuo a mandar beijos. stop. fusca manda marradas e rosnadelas com osso.stop. no outro dia senti pontapés da laura, sobrinha ainda em gestação na barriga da sara. stop. quem sabe ela puxará ao tio. stop. pelo menos já esperneia, como tu. stop. mais beijos. stop. no trânsito, em sonhos, às refeições. mais beijos. non stop... non stop... non stop...

tu feli

4:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá Juanito!
Só há uns dias soube da tua nova aventura, já tu seguias viagem. E desta vez com direito a diário de bordo para os que ficaram em terra...que bela e generosa ideia! Partilho desse teu fascínio por paisagens lunares pelo que o entusiasmo deste lado é grande com direito a várias visitas diárias ao Tamarugo (mais uma viciada a juntar ao rol). Pena é que os posts não sejam tantos quantos quantos os km que percorres. Partes para o deserto e nós é que ficamos sedentos...

Beijinhos da família da 'Velha' (estão todos a torcer por ti), um grande beijo meu e um abraço do Jota.
Pi

(Tento seguir o teu rodado no Google Earth. Um dia destes ainda te apanho...)

10:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bem Arica é linda! Não sabia que ias ficar num "resort" hahaha kidding. Nunca pensei que poderia acampanhar uma viagem destas! Com tanto entusiasmo vou já fazer um forward deste blog! Um abraço de logo! DAM

1:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

He moço mon qui bô stá?Tudo derete?

Quanto à questão daquela foto com uma formação geológica, pedi opinião a um professor meu de Coimbra com quem mantenho contacto frequente. Ele estava ocupadíssimo quando respondeu mas segundo a sua opinião, que passo a transcrever:" A foto parece-me que ilustra “marmitas de gigante” escavadas no leito de um curso de água, num substrato de arenito com estratificação entrecruzada."

Mais logo vou traduzir,noutro comment.

Esta semana ainda não tinha tido acesso à "net".

Hoje, depois de uma noite de insónia derivada à época de eleições que se vive em Cabo Verde - legislativas no próximo domingo,presidenciais a 12 de Fevereiro, sinto o meu cérebro trôpego. Acho que apenas acordei verdadeiramente quando comecei a ler o teu relato. Nos últimos tempos tem sido um dos pontos de maior interesse na minha vida, já que por aqui estou sempre rodeado de muita gente, mas o "síndrome de ilha" está presente.

Amanhã é o dia dos "Hérois Nacionais". Feriado Nacional cabo-verdiano que se destina aq evocar todos aqueles que engrandeceram a sua Pátria. Hoje os alunos vão apresentar alguns trabalhos sobre alguns desses heróis a toda a comunidade educativa. Personalidades como: Amílcar Cabral(herói da independência); Lura(a Lura - não é necessário falar); Manuel Lopes( Importante Escritor e intelectual; entre outros.

Fica bem.

Dona Albertina, Sr. Lourenço, avó, tia e tio. Um grande abraço
"Feli" - abraços também.

Dona Albertina, qualquer problema de expressão escrita, ou ortografia justifica-se devido ao período eleitoral.


Um grande abraço

Carlos Tomás

5:23 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home