segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Paso Samoré

A aventura ciclística ainda näo recomeçou mas, em respeito pela fidelidade dos ouvintes, será feita uma pequena abertura do sinal de Rádio Tamarugo, a transmitir da Argentina.
- - -
Estive dois dias em Santiago, com o objectivo de voltar a tomar um autocarro para o sul, no movimento caótico de pessoas e bagagens do Terminal Alameda, já com novo passaporte.
Até agora, contabilizo 10 viagens de autocarro em quase tantas distintas companhias. A ver: Turbus, Camus, Atacama 2000, Flota Barrios, Pullman Bus, Queylen, Inter e Via Bariloche.
A "missäo passaporte" foi um sucesso, graças à señorita Carola Garetto da embaixada portuguesa que me recebeu muito bem.
Documentado de novo, tomei um autocarro para Osorno (86 Km ao norte de Puerto Montt). Aí tive que esperar 36 horas por novo autocarro para Bariloche, Argentina.
Osorno é uma cidade interessante. Em finais do século XIX recebeu muitos imigrantes alemäes que chegaram, convidados pelo governo argentino, para colonizar e promover o desenvolvimento da regiäo. Ainda há muitas evidências deste período, sobretudo relevantes nos títulos germänicos de alguns edifícios.
À semelhança de Puerto Montt (e,enfim, toda a Patagónia) abundam as construçöes em madeira.
Mas, passar aí 36 horas foi um teste à tolerância. Queria estar apenas "de paso". Como era fim-de-semana, os autocarros andavam cheios e o bilhete que consegui comprar trazia no verso esse "convite" para conhecer Osorno de maneira mais profunda.
Felizmente, em Plaza de Armas, estive largos e bons momentos na companhia de Hernán Rivera Letelier e "Romance del duende que me escribe las novelas".
- - -
Domingo, por volta das 19h00 cheguei a Paso Samoré (fronteira argentino/chilena).
Tenho um selo chileno de entrada num ex-passaporte e um de saída a estrear as novas páginas picotadas em rodapé.
Tinha previsto vir à Argentina no final da viagem. Acabei por fazer esta "intersecçäo a meio".
- - -
Em 1998, quando viajei, também em bicicleta, na Argentina, em Puerto Piramides, Península Valdés, conheci uma família. Estavam de férias como eu.
Foi junto a uma "loberia" (colónia de lobos marinhos, em estado livre). Pouco tempo conversámos mas foi apenas o necessário para me convidarem a passar pela sua casa em Buenos Aires, quando tomasse o aviäo de regresso.
Quando voltei a Buenos Aires, mês e meio depois, apenas consegui marcar o vôo de regresso para após duas semanas.
Foram entäo essas 2 semanas em que recebi diariamente liçöes de generosidade e simplicidade dos meus novos amigos que me alojaram e se empenharam diária e criativamente para que a estadia fosse o melhor possível.
Viviam, a família Gamboa (Jorge, Cecilia, Matias e Fernando), no sexto andar de um edifício e eu acabei por ficar dez pisos acima, no apartamento de um amigo que vivia sozinho.
Durante o dia passeava pela cidade (sobretudo pelo bairro de San Telmo) e, à noite, jantávamos juntos. Mais tarde, saía como pendura na moto de Hernán (o meu room-mate) guiado, por um experiente cicerone, ao lado nocturno da capital.
Muitas vezes, Daniel, também aparecia para exponenciar ainda mais a diversäo dos seröes.
No tempo presente, a família Gamboa trocou a gigantesca metrópole pela pureza do ar e das águas de Bariloche, na cordilheira patagónica da argentina.
Para alguém täo pouco habituado ao exercício da escrita esta sumptuosidade paisagística é muito difícil de descrever. É uma zona de lagos (Nahuel Huapi, Futaleufú...) e de cerros (Catedral, Otto, Tronador...). Como se näo bastasse, as contruçöes em madeira (troncos) e pedra parecem réplicas ampliadas do imaginário caserio dos duendes.
- - -
Novamente, a mesma simpatia estava à minha espera mal coloquei o pé fora do autocarro. Fui recebido com um "asado argentino" (cordeiro, chouriços de vaca e frango do tamanho de perú).
Hernán, com quem fiquei no apartamento de Buenos Aires também se mudou para Bariloche. Já nos vimos. Näo há abraço luso-argentino que fique por dar.
- - -
A casa dos meus amigos fica a 10 Km do centro. Aqui venho, na bicicleta de Matias, bordeando o lago.
Mais que nunca faltam as imagens para ilustrar. Pode ser que ainda se componha...
- - -
Quarta-feira devo viajar a Buenos Aires (1700 Km e 20 horas). Vou visitar o meu amigo Daniel e comprar uma bicicleta para que nem eu, nem vós, poupemos à carretera austral, de novo no chile, as marcas de rodado que lhe havíamos prometido.
- - -
Muito obrigado a todos pelos votos de força e empenho na reconstruçäo deste "projecto".
Vou dando notícias das movimentaçöes enquanto tento criar as condiçöes para que este espaço possa abandonar o estado claudicante em que caiu e voltar a melhores sessöes.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"O homem não precisa de viajar para engrandecer; ele traz em si a imensidade."

Ainda há pouco comentei o texto anterior e é com grande prazer que comprovo a tua coragem e perseverança. Vejo que estás bem, que a tua viagem continua, apesar dos precalços. E é isso que importa.

Até breve.

7:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

juan
nunca pensei tornar-me um cibernauta tão assiduo,mas por via da necessidade, eis-me aqui a fazer o papel de retansmissor da frequencia da radio tamarugo para a gerencia,que aqui é de 5.500 mghz de amizade.
Pena é que o meu computador não tenha espaço suficientemente grande,que talvez te enviasse uma bike e votos do tamanho do mundo,para que todo o teu sonho possa continuar,sem que tenhas mais despertares tão desagradáveis.
Que a partir de agora tudo te corra como esperavas.

8:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

OLÁ,João! Cá estou eu de novo, mais uma vez ultrapassada por outros cibernautas mais atentos.
Neste momento , como te sei mais sedentário, digamos que diminui a frequência com que procuro notícias tuas. Já me informei razoavelmente sobre Bariloche e sei que é muito bonito, cheio de atrativos naturais, que oferecem férias paredisíacas, quer no verão quer no inverno.É dessas belezas que estás a desfrutar, na companhia de gente boa. Que bom!
São 21h ( 2ª f ). Espera-me a preparação de uma aula .
Aguadamos sempre novos relatos e desejamos muito boas viagens.
Muitos, muitos beijinhos, meus e do tio.( Se quiseres repetir o telefonema ( na mesma modalidade )
será muito bom.)

1:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

João

Mais uma vez essa tua coragem nos deixa de boca aberta! Parece que perante estas tuas aventuras, ficamos sem palavras para dizer seja o que for.
Confesso que a admiração é tanta que dou inumeras vezes o teu Blog para vários amigos lerem. Acho que são Histórias a não perder.
Para terminar, escrevo uma frase que eu acho que tudo tem a ver contigo.
Muitos beijinhos e Abraços e muita força destes amigos que te admiram muito.
Inês e Pedro

" ... tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu caminho."
Richard Bach

2:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

MEEEEEEEEEEEEEEEEENIXXXXXXXXXXXXXX!

Grande Jo. Hoje é dia de comemorar a empreitada. Faz exactamente um mês (dia 8) que começaste o caminho e até hoje não te tinha dito nada. É mau, muito mau. Mas acredita que desde aqui, dos famosos calabouços da redacção da raia, não falhamos pitada desde o primeiro dia da tua caminhada. Mas se durante o dia não largamos o tamarugo, à noite a coisa repete-se, diariamente, e hoje com o Horácio e o Carlos. Aqui fica uma mensagem do primeiro:
João,espero que estejas de boa disposição e já sei do teu percalço.
Sugiro que fiques em campings mas imagino que nem sempre seja possível:hidratação+vitaminas,proteinas e sais minerais e olho vivo e pé ligeiro ! Um abraço.
Agora é o Carlos:João, lembrei-me que se um dia estiveres enrrascado uma boa ajuda poderão ser as paróquias, os monasterios e a tua antiga condição de escuteiro.Um abraço.

Dá-lhe gás e força nas canelas. Tens um pelotão de albicastrenses a torcer por ti e já sabes «em casa roubada, trancas na porta» ou então «quanto mais prima, espeto de pau»,... Quer dizer arriba arriba, andeleeeeee. Bom, confirma lá se os remoinhos no hemisferio sul convergem mesmo ao contrário e já agora vê lá se identificas o cruzeiro do sul. Se puderes tira-lhe uma foto. Ai em baixo (acho que se pode dizer isto)o céu é outro. Aproveita e faz uns desenhos também.
Grande Abraço do coração da Beira Baixa
João Leopoldo

5:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João já tenho tentedo escrever, mas não conseguia. A Filipa acabou por me explicar. Temos acompanhado a tua aventura e sentimos inveja. Em relação ao que te aconteceu o Augusto disse que te vende material usado a preço novo, com condições de pagamento....
Se precisares de alguma coisa diz. Beijinhos e continuação da tua aventura.

1:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Jonny,

não te esqueças do meu postal de Buenos Aires.
Ai... se eu pudesse ir aí eu te diría...

Bessos, muchos

F.

1:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pois, pois, se a F pudesse estar aí nem eu sei aonde é que paravam... na Australasia ou na Conchichina, talvez...e depois eram mais uns pais com o credo na boca, não era?.
Pois é as Berlengas por descobrir, Rio de Onor, Campo de Besteiros, Freixo de Espada ao Peito , tantas e tantas terras, terrinhas e terriolas a menos de 7.500 Km e logo terem que ir para lá do Meridiano de Greenwitch e abaixo do Trópico de Câncer..é muito longe
**************
Então estamos finalmente de férias,né? nem Internet, nem pedaladas, nem cronicas, nem nada, né? E nós aqui " a brocha " pelas narrativas...assim não pode ser. Estamos a pagar para quê? para o mister Bill Gates ganhar o dele sem fazer nenhum. Vamos lá a começar a andar e a escrever que nós estamos ansiosos por ver as fotos das colónias dos leões marinhos, das orcas e dos pinguins e de outos bichos exóticos e espampanantes desse territóio das Pampas. Não esquecer trazer na bagagem uma manada de bois ou pelo menos um kg de Picanha para fazermos um rodizio completo quando comemorarmos o teu regresso.
E por agora adelante que se faz tarde. Até breve
LB

7:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João

À uma semana que não tenho net, e luz poucas vezes, também não tenho notícias. Imagino que está tudo bem, pois estas quando são más propagam-se à velocidade de um relâmpago a cortar os céus.

Sabes que pelo Maio os miúdos quando vêm alguém mais "debotado" chamam "Olá". No início eu achava que eram muito simpáticos em cumprimentar toda a gente, só depois percebi o que era o "Olá" - a mesma coisa que "Tubab" em wolof. Desculpa mas como comecei esta mensagem com um olá lembrei-me do pormenor.


Não imagino em que parte austral possas encontrar-te neste momento mas, passou-me pela cabeça que ainda possas encontrar-te nas imediações de Buenos Aires e pensei que com as tuas experiências nocturnas fosse possível ouvirmos um "TANGO", uma das formas de comunicação mais fascinante que já tive opurtunidade de conhecer, via Rádio-Tamarugo.

Um grande abraço


"Obi Li"

4:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

João,
Só ontem (quando encontrei o Pedro e a Cygny) soube que podia acompanhar a tua viagem via Tamarugo. Hoje, quando cheguei ao emprego, pus-me on-line, e li todos os episódios. Como consequência não fiz nada durante a manhã. Não sei o que o patrão vai achar disso, mas estou-me nas tintas.

Foi bom ver (ou melhor, ler), que, como sempre, não há nada que te deite abaixo. Continua assim, e quando puderes dá-nos mais um momento especial de emissão.

Beijinhos
Rita Lynce

8:03 da manhã  
Blogger nuno de matos duarte said...

Olá, João

Soube do teu passeio e blog há poucos dias. Inspiradores... Boa sorte para a tua jornada.

Nuno Duarte

9:08 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home