sábado, fevereiro 18, 2006

Hornopirén


_Vulcäo Hornopirén

Claudio, Lucy, Mauricio, por favor, si podeis, escribi para mi email o dejai un comentario acá. Ya no tengo vuestra dirección.
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"Quien no ha visto los bosques de Chile no conoce el planeta" _ Pablo Neruda
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Finalmente estou na carretera austral.
No dia em que escrevi o último post ainda saí de Puerto Montt. Fiz os 45 Km que correspondiam até Caleta La Arena, onde seria necessário cruzar em ferry até Caleta Puelche.
Todo o caminho vai bordeando a costa. Apenas os primeiros quilómetros säo asfaltados. Depois surge o "ripio" (piso em terra, com muita pedra solta). Os carros que me cruzam, vindo de sul para norte, vêm em "magotes", sintonizados com os horários dos barcos que os trazem. Ao passar, envolvem-me numa nuvem de pó e projectam pedras que acabam em "tchins" na bicicleta. Até agradeço esta "patine" com que me revestem, adequando todo o meu novo equipamento mais a prateleiras de antiquário do que a lojas com spots de halogéneo.


_A 12 Km de Puerto Montt.
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Chego a Caleta La Arena ainda a tempo de tomar um ferry mas como quase escurecia prefiro ficar e cruzar no dia seguinte para fazer a travessia com luz natural.
Junto à rampa do "transbordador", do lado direito de quem se aproxima da água, fica um café em madeira chamado "Donde la Pola". Pois, "Pola" é o extremo da simpatia. Trata os clientes de "mi amor", toda a gente parece que a conhece e o ambiente geral é o de uma grande refeiçäo familiar. Eu também sou incluído. Serve-me dois enormes hamburgueres caseiros, com salada e chá por cerca de 3 euros. Diz que é um preço especial por ser "mochilero". Pergunto-lhe acerca de um sítio para ficar.


_"El rincón de Pola"

Diz-me que ali tudo é seguro, que "hay harta gente que se queda ahi". Assim, desintoxicando-me de tantas noites entre paredes e sono amparado por verdadeiros colchöes, volto a dormir sob as estrelas. A bicicleta prendo-a a um grosso cabo de amarre de um barco e comparto a noite, e o chäo da mesma, com um cäo que se afeiçoou a mim. De manhä, acordou-me, com vontade de brincar, saltando sobre o saco-cama.
Tomo o pequeno-almoço de novo no "Rincón de Pola", sem a presença da mesma. Volto aos "desayunos" chilenos de café com leite e "sandwich de queso caliente".





_Rampa e "transbordador"

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A travessia demora cerca de meia hora. Passamos cerca de uma "loberia". Os lobos-marinhos estäo mais do que habituados à presença destes diários colossos de ferro que os visitam e pouco se preocupam com a nossa navegaçäo.



_"Loberia".

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O desembarque é feito em Caleta Puelche.


_Caleta Puelche.

Desde aqui, está assinalado um trajecto de 54 Km (na verdade, é um pouco mais) até Hornopirén.


_Viveiros de salmäo

O piso continua com a mesma consistência e a morfologia por onde o caminho se desenvolve é bem mais variada que a do dia anterior. Há extensas subidas, outras curtas mas mais pronunciadas e descidas que obrigam a travar para manter o controlo.
Cada pedalada é acompanhada de golpes de direcçäo para manter a trajectória. Como o piso é muito solto, trata-se de constantes tentativas de derrotar o atrito e manter o equilíbrio. A roda traseira salta muito, apesar do peso, enviando diagonais de todo o conjunto. Parece que estamos sentados numa máquina de lavar roupa em momento de centrifugaçäo (a 600, pelo menos). O porta-bagagens, que até parecia forte, já dobrou (mesmo com pouco peso).




A paisagem é deslumbrante. A estrada desenvolve-se por uma península coberta de bosque. Existem desvios a alguns portos de mar: Caleta Contao, El Manzano, Pichicolo...).


_Caleta "Pichicolo".

Cruzo vários rios com pontes de madeira (sujeitas ao tráfego diário de todo o tipo de veículos, até autocarros e camiöes cisterna).




Em frente a muitas casas, do lado de fora da cerca e junto à estrada, há pilhas de lenha, para venda.



Dependendo das zonas e da densidade da vegetaçäo ou da proximidade de zonas húmidas estäo os meus amigos mosquitos (aqui, substituir os "itos" por "ardos". O primeiro sufixo näo parece muito adaptado a espécies com 2 cm). Numa das vezes que parei para fotografar tive que "fugir" saltando e abanando os braços. Uma curiosa réplica da "dança da chuva" com bicicleta incluída.



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Em Hornopirén é necessário fazer outra travessia de ferry até Caleta Gonzalo. Há apenas um barco por dia e sai às 15h00. Como sabia que näo chegaria a tempo, fiz o caminho sem pressas, repeitando o ditado "Quien se apura en la Patagonia pierde su tiempo".
60 Km diários, neste tipo de piso e excasseando as partes de terreno plano parece-me ser a meta que vou adoptar.
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Cheguei a Hornopirén esfomeado. Parei no mini-mercado "Karla" e abasteci-me de päo, queijo e bananas. Comi frente ao rio na companhia de umas crianças que pescavam com o fio enrolado numa lata. A conversa variou entre o preço da bicicleta e o Cristiano Ronaldo (menos mal que o produto da figueira näo foi chamado desta vez).
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Hornopirén (forno de neve) é também o nome do vulcäo perfeito que se avista (com 1572m de altitude).
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Dei-me por satisfeito com a ingestäo da chegada e chegou o momento de procurar alojamento. Averiguei que havia um camping a cerca de 2 Km a Este da povoaçäo.


_Rio de Hornopirén

Pelo caminho saltou um "crank" da bicicleta. É normal, quando säo novas, proceder a reajustes após os primeiros quilómetros. Esta, levou logo um trato tipo "centrifugadora" e a avaria antecipou-se aos ajustes. Näo tenho chave com este tamanho, há que esperar pelo dia seguinte em que volte, caminhando, até à povoaçäo.
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O camping "El arrayan florido" tem uma espectacular localizaçäo junto ao rio e com vistas para o vulcäo.


_Camping "El arrayan florido

Deitei-me junto a uma árvore e dormi até... começar a chover. Tive que fazer um rápido reconhecimento nocturno das áreas cobertas com a trouxa debaixo do braço.
O lugar que melhor me pareceu foi o alpendre da casa do guarda. Aí passei o resto da noite.
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De manhä, voltei empurrando a bicicleta para Hornopirén. Chove e faz frio. Como era cedo, tudo estava ainda fechado e deixei a reparaçäo para depois do pequeno-almoço.
Desta vez, o café com leite sabia a peixe mas a sandes de queijo sabia ao que lhe correspondia.
Fui a uma oficina e consegui apertar o parafuso täo bem quanto consegui com uma chave que näo era a prória. Foi uma senhora que me abriu a oficina e convidou a um "help yourself". O marido tinha saído a pescar.
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_Baía de Hornopirén

Continua a chover. Já tenho bilhete para o ferry. A bicicleta também paga mas ainda näo comprei a passagem pois há a possibilidade de subi-la em alguma carrinha que também faça a travessia. Incluída como carga näo é cobrada.
A viagem é de cerca de 5 horas até Caleta Gonzalo. Depois espera-me mais um dia a pedalar até Chaitén, onde espero voltar a dar notícias.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

OLÁ, João!
Acabo de ler a tua última mensagem. A paisagem deve ser deslumbrante, de facto. Estás no parque Pumalin, segundo as minhas fontes. Depois de Cháitem , continuas a descer ou vais à ilha de Chiloe? Não te esgotes. Está atento ao esforço, aos " moscardos", ao clima, à resistência da tua máquina ...Não voltes a dormir ao relento! Já dei notícia da tua mensagem à gerência.
Muitos, muitos beijinhos , meus e do tio.

10:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

olá tamarugo!
A ultima vez que nos vimos foi na consulta de osteopatia por dor nas costas, lembraste?
Soube desta tua aventura e não resisti a vir dar uma espreitadela.Admiro a coragem e a liberdade. Vai daqui o desejo de BOM CAMINO.
isabel

12:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Johnny!!!
Tanto mundo, tantas histórias e aventuras...
Vai escrevendo tudo, não te esqueças...
Na Beira está tudo a torçer por ti.
Go on, till the end of summer.
Forte Abraço
João Leopoldo

5:15 da tarde  

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