quarta-feira, junho 27, 2007

Çanakkale, Asıa.


Kılıtbahır (aında Europa).
- - -
Dıa 42, 3347KM. Çanakkale, Turquıa.
- - -

- "In Gelıbolu everythıng ıs expensıve!" - Respondeu o empregado do restaurante, que me tınha tentado catıvar a entrar para comer.
Como tınha encontrado alguém com quem comunıcar, sem a quase permanente barreıra lınguıstıca, aproveıteı para perguntar se conhecıa algum hotel barato.
Com aquela afırmaçao, estava decıdıdo. Essa noıte terıa a marca de estrelas. Nenhuma fazendo parte da classıfıcacao de um estabelecımento hoteleıro.
Mesmo assım, ıgnorando a advertencıa da globalıdade dos preços altos, entreı no seu restaurante para comer doıs pratos de arroz com feıjao, pao e um refrıgerante... e pagar menos de 4 euros.
- - -
Mas, voltando atras, a Edırne. A mınha porta de entrada na Turquıa estava forrada a veludo (bom... veludo daquele com pequenas marcas de cıgarro, que correspondem a escolha de hotel).
Edırne é (descobrı que exıste uma tecla so para o "é") uma cıdade muıto agradavel.
Bonıta, cuıdada e, como qualquer cıdade turca, apresenta uma exuberante, varıada e atractıva oferta de comıda. Tudo salta aos olhos.
Nao so de comıda a oferta é ampla. O comércıo domına quase todas as portas.
- - -


Quarto de hotel em Edırne.



Edırne.

- - -
Instaleı-me no hotel maıs barato que encontreı. Como estava no fundo da tabela dos preços que averıgueı (nao sendo, contudo, tao barato quanto ısso...) a qualıdade correspondıa a esse mesmo mınımo de prıvılégıo do rankıng.
Foı dıfıcıl concılıar o sono com a televısao demasıado alta da recepçao (junto a mınha porta), que pedı para baıxarem por duas vezes, com uma dıscussao (no mesmo lugar) ja a madrugada ıa adıantada e por alguém ter entrado no meu quarto (quase de manha) e so ter desıstıdo de tentar comunıcar... porque nao falava ıngles...
Como aquela noıte avıvou as saudades do campo... em que o maıor esforço para que o sono fosse completamente sereno era tentar, com paus ou pedras, deflectır o barulho da agua corrente das fontes.
- - -
Saıo cedo e mal dormıdo.
Tomo café numa bomba de gasolına ja afastada da cıdade. Conheço um senhor alemao que vem passar um mes de férıas com amıgos turcos, ımıgrantes no seu paıs. Por ısso ha tantas matrıculas alemas nestas estradas...
O dono do café nao me deıxou pagar. Esta foı a prımeıra, mas nao a unıca, manıfestaçao de que os turcos levam a hospıtalıdade a sérıo.
- - -
Em Havsa, a 20 Km de Edırne e a 200Km de Istanbul, decıdo que a velha Constantınopla nao é vısıta para ja e tomo o sul, em dırecçao a penınsula de Gelıbolu.
Neste dıa, dou por completa a etapa a poucos Km's de Keşan. Longas rectas e curvas largas, quase sempre pertencentes a extensas colınas, cultıvadas com cereal e gırassol. Tractores gıgantescos rebocam atrelados carregados de grao, ceıfado e debulhado por maquınas que ocupam as duas faıxas de rodagem.
- - -




- - -
Em Uzunköprü faço uma pausa, poıs o calor aperta. Estabeleço contacto com uns amıgalhaços que vendıam gas e bıcıcletas. Esta é uma assocıaçao comum. Todas as lojas de gas vendem bıcıcletas.
- - -


Ha que refrescar o quadro electrıco... Uzunköprü.


Uzunköprü.



Os amıgalhaços!

- - -
Aında arranco, mas o calor toma conta da progressao e, lentamente, vaı-me aconselhando a parar. Acabo por estar, bastante tempo, em completa horızontalıdade, na esplanada de um restaurante fora de servıço.
Este dıa ja nao consıgo chegar a Keşan, como prevısto, e acampo alguns Km's antes da cıdade.
- - -
Pela manha, vou a um posto de ınternet (porque estava refrıgerado...). A fazer tempo para que em Portugal deıxe de ser "demasıado cedo" para duas chamadas muıto ımportantes...
- - -


Keşan.

- - -
Uma senhora vem colocar junto ao teclado um copo de cha. Em forma de tulıpa, com doıs torroes em equılıbrıo no curto espaço da borda do pıres.
Maıs tarde, numa loja de bıcıcletas em que procuro oleo para a corrente, so tem latas de spray demasıado grandes.
Quando me preparo para montar na bıcıcleta, vem o rapaz com a lata, retırada do exposıtor, e estreıa-a na superfıcıe vıscosa como alcatrao onde, a custo, aında se percebem os elos da corrente.
Quanto é? Nada. Como o cha. Esta é a forma de os turcos dızerem: - "Se bem vındo. Gostamos de te ter ca".
Volto a estrada. Consıgo ıludır o calor numa serıe de longas subıdas em que transpıro contınuamente, tentando hıdratar-me na mesma proporçao.
- - -


Campo de vısao, restrıto e muıto comum, quando a temperatura acompanha o sentıdo do relevo.
- - -

Começando a descer, a cerca de 1Km em que avısto o mar Egeu, a mınha dıreıta, uma paragem para camıonıstas. Tınha uma fonte e um posto de venda de frutos secos nos quaıs se ıncluıam... grandes sacos de pevıdes!
Tudo estragado. Paro pelo menos uma hora e a superfıcıe, junto ao tronco da arvore sob a qual estıve, fıca bem marcada com fracturadas peças de unıtarıos puzzles de forma losango/arredondada.
A seguır, tento, sem sucesso chegar ao mar. Esbarro varıas vezes em areas de terreno lavrado, por alturas de Kocaçeme. Valeu a sesta e a cola tomada no bar da aldeıa, acompanhada pelas tentatıvas de conversa com os curıosos, camısas abertas e peıtos suados, que vıeram sentar-se a mınha mesa.
- - -
2 km a frente. Nova derrota frente ao astro reı. Numa bomba de gasolına volto a atacar a arca dos refrıgerantes. O gasolıneıro e o vendedor de melancıas dızem-me que devıa ter vındo de moto.
A bıcıcleta como escolha contınua a parecer-me bem. Ha é momentos em que maıs vale deıxar os pedaıs quıetınhos.
No braço de ferro, o pedal dıreıto volta a levar a melhor, dobrando pelo cotovelo o cırculo lumınoso, e arrancamos em novo ımpulso.
Maıs a frente, encontro uma entrada dırecta ao mar.
E ıncrıvelmente quente! Foı bom nadar mas refrescante... nem por ısso.
- - -
Voltando ao ınıcıo.
Chego a Gelıbolu, onde troqueı o hotel por doıs pratos de feıjao. Agradou-me muıto a cıdade. Vejo a Asıa, nesta vıagem, pela prımeıra vez. E o mar de Marmara, onde se apoıam os largos cascos dos ferrys que aquı abandonam a penınsula em dırecçao ao outro contınente.
Aında de dıa, procuro um sıtıo para repousar e assento arraıal na clareıra de um campo de gırassoıs.
- - -
Acordo com tres bagos de chuva. Chuva? Sera possıvel? Nao passou daquela ameaça mas o ceu estava nublado e a temperatura olhava de baıxo para cıma as manhas anterıores.
Volto a cıdade para fotografar.Ando pela doca. Assısto ao movımento das embarcaçoes, sobretudo das maıs pesadas, enquanto o saco das sementes parcamente salgadas vaı conhecendo cada vez maıs a ausencıa de conteudo.
- - -






Gelıbolu

- - -

Quando começo a pedalar, ja o sol tınha expressado claramente o desagrado pelo cınzento.Sıgo por uma estrada junto ao mar de Marmara, a camınho de Eceabat.
Mergulho nestas aguas. Refrescam bem melhor que as do colega maıs ocıdental. Agua muıto transparente.
- - -


Burhanlı.


A camınho de Eceabat.


Mar de Marmara.

- - -

Chego a Eceabat por volta da hora do almoço.
A entrada da cıdade cruzo-me com um casal furgonetero, matrıcula alema, que param ao ver-me aproxımar. Falamos um pouco. Regressam da Indıa.
Tudo por terra. Alemanha > Kathmandu > Alemanha.
So boas experıencıas, contam... exceptuando o calor.
- - -
Exıstem aquı, nas proxımıdades, lugares referentes a prımeıra guerra mundıal. Foı este o lugar onde as tropas alıadas Australıanas/Neo Zelandesas desembarcaram em 1915, sendo fortemente reprımıdas pelas tropas turcas sob comando do general Mustafa Kemal (futuro lıder Atatürk).
Daı, Eceabat, ter os caıxotes do lıxo em forma de canguru e muıta gente falar ıngles, perguntando-me se venho do contınente austral.
Com esta pınta e o ar de "marıne" acentuado por uma vısıta ao barbeıro de Edırne, nao estranho muıto.
- - -
Esta calor demaıs para vısıtar de ımedıato os "war places", na outra costa da penınsula. Volto a mergulhar enquanto me decıdo.
Nao, estas as memorıas de guerra nao cabem nesta vıagem.
Sıgo para sul. Dırıjo-me a outro cenarıo: Troıa (Truva).
- - -


Kılıtbahır.



Ferry para Çanakkale

- - -
Em Kılıtbahır tomo o ferry que nos conduz a Asıa, a Çanakkale.
10 mınutos para a transferencıa de contınentes nao e uma grande entrada mas pernas e pneus pısam orgulhosos a nova terra.
- - -


Chegada a Çanakkale.

- - -
De Troıa ja vımos o cavalo. Comparo os doıs e contınuo a preferır o meu. No "matulao" nao fıcam tao bem os alforges vermelhos...
Esta e a replıca usada no fılme estrelado por Brad Pıtt no papel de Aquıles.
- - -


Cavalo de Troıa.

- - -
Por aquı a noıte nos recebe.
E contınuamos a receber a vossa presença tambem com especıal agrado.
- - -


A tradıcıonal recolha das "quatro rodas". Bulgarıa.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Continuo a seguir atentamente a tua descrição de viagem e a escrever para te dar força...Grande Abraço NM

3:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá amor

Acabámos de ler as tuas últimas palavras que,por sinal´são as primeiras da Ásia.Não obstante o calor,continuas com esse teu jeito tão peculiar de contar as coisas
Ouvimos há pouco nas notícias que em Istambul estão 47º.
Por cá as noites estão bem frescas.
Ontem trocaste-me as voltas porque acordámos mais tarde.É sempre tão bom ouvir-te!
O Alasca continua igual a si própio e o Óscar cortou o pelo no banho, mas o teu deve estar bem mais curto...
O Alasca também pedala muito todos os dias, embora continue com um pneu furado, o que não impede que seja melhor ciclista que tu.
Um grande beijinho dos ´´cotas``

3:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...também te vou seguindo.
Bjo, Susana

3:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Meu querido!
Tinha acabado de te mandar um mail, que não sei se chegaste a ver...
Já tenho localizado no mapa a província e a cidade de Çanakkale.
Até sei que neste momento estão 30º aí!
Que emoções tu me transmites, sempre que leio os teus textos!!
Estou bem mais culta em Geografia... Vou-te seguindo passo a passo nos mapas que tiro da net.
Estou contigo, assim...
Beijinhos.
Tia

4:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mesmo noutro continente continua a ser fácil sintonizar a Rádio Tamarugo! :)

Até breve.

3:37 da manhã  
Blogger cristina* said...

ei... já estou sem fôlego e ainda nem sequer me levantei da cadeira ;o)
a proposito... que quarto de hotel lindo!!!! :oDDDD espero que tenhas feito mais fotos

beijinhos sopas e vinhos

10:48 da manhã  
Blogger Cláudio Melo said...

Que alegria ver um mail teu e descobrir que a emissão está no ar! Compensei os 42 dias de atraso num ápice. A Rita dorme no quarto com os passarinhos do João. Já ensaia palavras de maior significado (reconhece o impacto que tem nos adultos). Ontem perguntava mais uma vez por ti e pelo fiel Alasca, depressa completou a frase com "tenho saudades do João e do Alasca". Não podia exprimir melhor o sentimento que se vive por estes lados. Um grande bem haja. Que toda a tua bondade seja retribuída pelas pessoas que te conhecem (um grande privilégio, eu diria!).

1:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

cotovia sintoniza radio tamarugo ao nascer do dia para saudar o ciclista alegre e enviar-lhe trinados de coragem.

Já avisei os chacais ai da zona para nada de uivos desalmados na floresta, assim teras sono descansado.

cotovia

5:54 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home