segunda-feira, agosto 20, 2007

Vashisht.

Existem novas imagens, no final do post, inseridas a 21/08.
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Dia 96, 5426 Km. Vashisht, India.
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Por fim, encerrei o periodo sedentario.
Quanto tera enriquecido a memoria e saido valorizada a experiencia ao longo de 22 dias entre McLeod Ganj e Dharamkot?
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O jantar do dia anterior a nova partida foi na companhia de Natacha (com quem aprendi muito mais do que Tai Chi; a ela devo inumeras pistas), Sarah (israelita, tambem estudante de Tai Chi), Helene e Antonio, de Taiwan... num restaurante coreano.
Depois fomos ao cinema (uma sala minuscula com um ecran plasma onde a programacao diaria se faz a conta de 5 dvd's). O cartel muda frequentemente e a seleccao e vasta. Tambem se pode "encomendar", como aconteceu com o filme que vimos: "El labirinto del fauno".
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Na ultima manha, pedalei apressado a tentar encerrar ultimos detalhes...
Tomei um cha de gengibre no "Peace Cafe" (recem descoberto, entrando de imediato nos lugares de topo da escala de preferencias); enviei, para Portugal, um pacote de livros acabados de adquirir (by sea, tardara 3 a 4 meses a chegar mas o valor e mais do que convincente - menos de 3 euros); devolvi um livro (relato de uma viagem em bicicleta entre a Mongolia e a India) a Carole, do Quebec; despedi-me do Tashi na mesma cozinha onde recebi instrucoes de culinaria tibetana; entreguei dinheiro a um outro amigo carenciado (do qual nunca soube o nome mas retive a simpatia); e despedi-me de Kessavalureddy...
Esta ultima despedida foi particularmente emotiva. Kessavalureddy tinha preparado um pacote para me entregar com mantimentos para a viagem (3 pacotes de bolachas e duas garrafas de refrigerante "Limca", muito do meu agrado). Como garante de seguranca e proteccao, tambem me ofereceu dois amuletos. Uma pulseira de contas, bastante usada, fez-me perceber que era de seu proprio uso. Que dizer...
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A minha encomenda de livros e embalada por um
costureiro tibetano, ao lado do posto de correios.


Bus Stand em McLeod Ganj.




Ainda Dharamkot.


Entre McLeod Ganj e Bagsu.


Cemiterio junto a igreja "St. John in The Wilderness". McLeod Ganj.

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Apenas ao inicio da tarde dou de novo inicio a viagem em bicicleta, com esta totalmente carregada. Por tanto tempo em repouso, a sensacao parece de estreia; assim como descer a Dharamsala, uma povoacao totalmente indiana, com o caos que caracteriza estes nucleos.
De choque, reaprendo a experiencia. E necessario reagir constantemente. Os sentidos alerta, respondendo ao instinto de sobrevivencia.
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Dia chuvoso. O impermeavel adquire peso nas grossas gotas de chuva e, na medida inversa, vou-me desprendendo de tolerancia na intensidade das buzinas.
Quando paro para me abrigar de descargas mais fortes encontro conversa com os os locais e as perguntas do costume.
Saudacoes muito amistosas, sempre. Bracos estendidos a partir das janelas dos camioes e das motos que, em aproveitamento maximo de recursos, levam sempre 3 passageiros: "Hey man, Hey sir, Hey friend...".
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Entre Dharamshala e Palampur.

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Ao fim de apenas 47 Km, dou o dia como terminado, enquanto espero por um momento mais seco, abrigado no toldo de uma joalharia, em Palampur.
Voltei a estrada. Significa voltar a alojar as horas nocturnas em quartos de hotel que correspondam ao orcamento estipulado; familiarizar-me com a surpresa presente de cada vez que abro uma porta...
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Em Palampur, as primeiras horas de luz dao a entender que, por enquanto, o dia e de sol.
Tentarei chegar a Mandi.
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Estava avisado. Encontro-me em territorio pre-himalaico. So ha lugar para esperar que o terreno nunca seja plano.
Assim foi. Tambem repleto de curvas, foi este dia.
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Criancas em Baijnath.

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Paisagens soberbas, carregadas de vegetacao. Os montes que avisto, mais proximos ou mais afastados, tem vegetacao ate ao cume. A presenca de humidade e constante e volto a sentir o calor dos primeiros dias em solo indiano, adormecidos e amenizados na memoria pelo particular microclima de McLeod Ganj (outra das boas caracteristicas do lugar...).
Ja nao encontro menus tibetanos, os meus preferidos, e, na escolha dos pratos indianos, volto a negociar entre a vontade (pouca) e a tentativa do minimo de agressao gastrica.
Ate agora, a saude tem levado a melhor.
Frequentemente, a jogar pelo seguro, recorro a uma variante chinesa: "veg. chowmein".
Tenho abusado de "Butter Chapatis" (aquela medalha espalmada de pao indiano, com manteiga), ao ponto de o apetite me pedir treguas, ate ver, nessa opcao.
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Criancas, antes de Mandi.










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Em altura do dia fechar o tempo de luz solar, cruzo a ponte sobre o rio Beas, acedendo a Mandi.
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Mandi.

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Toda a confusao presente nas ruas da cidade. Esta e a India que esperava e ha que continuar a reagir, tentar e lograr a positiva adaptacao.
Janto na rua e adoco a sobremesa com um batido de manga onde alguns bagos de amendoim formam pequenas ilhas.
Passo a noite no Hotel Standard.
Sonhos embalados pela esperanca, sugerida no verde das paredes do quarto.
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Hotel Standard. Mandi.

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Novo dia e nova deslumbrante presenca solar. Chegaria a Manali?
Os primeiros quilometros, ainda com o gosto do Black Tea tomado numa das ultimas esplanadas de Mandi em direccao a Pandoh, sao feitos na companhia do rio Beas.
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Rio Beas.






Primeiros quilometros apos Mandi.

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Recebo e acumulo saudacoes de inumeros estabelecimentos junto a estrada; de camioes que compartem carga e passageiros em sobredose; motards que param para falar e so seguem de novo viagem incluindo-me no registo fotografico das suas camaras...
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Blow horn!








Entre Mandi e Kullu.



Buntaro. Antes de Kullu.

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A chegada a Manali, prevista para este dia, ficou irremediavelmente comprometida na demora da sesta sobre um muro lateral a estrada e a conversa com uma familia de Sikhs (vertente Hindu caracterizada, de forma mais visivel, pelo uso de turbante e uma pulseira metalica que, particularmente, reprova o sistema de castas) durante o almoco.
Qual Manali... entre gelados e copos de cha Masala (leite fervido com cha e especiarias) fui entretendo a pouca motivacao ciclistica, acabando por a albergar definitivamente no Hotel Central, em Kullu. Tinha percorrido 74Km, ficando ainda a 40Km do destino previsto.
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Kullu.

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A chuva continua a preferir outros lugares e abandono Kullu sob a completa presenca do astro rei. Logo apos os iniciados quilometros, primeira paragem para espalhar doce de morango em fatias de pao de forma. Completo o devido "reconforto" numa chavena de cafe com leite e... continuo a subir.
Encontro pomares, de macieiras. Lugares junto a estrada servem de pontos de venda e armazenamento. "Himachal Apples" le-se em colunas empilhadas de caixas de cartao.
Numa das bancas, onde me disponho a comprar, a fruta e-me oferecida por dois rapazes que dao lustro e empacotam macas. Tem os olhos raiados de vermelho pelo fumo da Cannabis.
As dentadas e pontiagudas folhas desta planta reconhecem-se por todo o lado, onde cresce de forma espontanea.
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Entre Kullu e Manali.

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A medida que me aproximo de Manali proliferam as ofertas turisticas. Alojamento e actividades como rafting e trekking.
A horas de almoco, encontro a cidade desejada.
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Aproximando-me de Manali.


Encontro o primeiro elefante.
Apesar de pesado, o andar e suave e elegante.



Manali

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No Peace Cafe de Manali volto a mergulhar a colher numa malga de Thanthuk (sopa tibetana, com variedade de vegetais e massa fresca).
Esquivando menores que, com insistencia, me tentam engraxar os sapatos sigo viagem, sempre a subir, ate Vashisht.
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Entre Manali e Vashisht.

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Aqui, agua quente e sulfurea brota naturalmente e e aproveitada em piscinas a ceu aberto e de uso livre. Dai tambem a carga de turistas, convivendo com os locais envergando traje tradicional. As mulheres usam um lenco na cabeca como ainda nao tinha visto na India, apelando mais a memorias turcas.
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Desde Vashisht, pretendo seguir para norte em busca de outras latitudes e do desafio de novas altitudes.
A ver como nos portamos... a bicicleta acusa ja o peso dos quilometros e da manutencao nao possivel, sobretudo ao nivel da transmissao.
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Novamente agradeco a ampla resposta solidaria ao apelo de Radio Tamarugo. Nem toda a oferta foi entregue. Esperando que concordem, tomo a liberdade de a considerar como credito. Uma especie de bolsa a qual darei, ou nao, uso conforme as situacoes particulares que virei a encontrar.
Tudo sera devidamente reportado e todos receberao um agradecimento pessoal.
Um grande abraco. Radio Tamarugo aproxima-se de verdadeiro territorio himalaico e voltara para registar os quilometros que agora se seguem.
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Vashisht.




Mosteiro budista em Manali.

14 Comments:

Blogger Sofia Salvador said...

Namasté João!
Cheguei ontem da Grécia e hoje li teus relatos de há uma semana e agora, tipo bónus, vejo tuas notícias mais frescas!! Que fotografias bonitas! E que momentos bonitos nos decreves! Espero que continues a ter bons encontros e novas aventuras nesse teu caminho pelos Himalaias que têm algo de místico! Fico à espera de ver obras em papier maché e, quem sabe, comer algum petisco tibetano! ;) Boa pedalada!
Bjo, sofia

12:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Grande João,
Estou sempre à espera de noticias tuas através da Rádio e fico sempre deslumbrado com as tuas fotos os teus relatos e o teu grande coração.
Um bem haja.
1 Ab
NM

3:41 da tarde  
Blogger Sara said...

É engraçado ler-te de volta à estrada. Já me tinha habituado à tua vida mais "parada" e contava ler mais algumas estórias acerca dos amigos de McLeod Ganj.
Deixo aqui os votos de continuação de boa viagem.
Até breve!

5:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sparrow,

Tás de volta ou ainda andas às voltas?
Gosto de ampliar as tuas fotos para ver todos os detalhes, as florestas, os anuncios, as casas e os rostos.
Vai continuando a relatar os teus passos/pedaladas. Eu ainda tou entre noitibós :)

Coragem
Cotovia

3:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Alô João

Mais uma vez maravilhados com as lindas fotografias e os belos relatos.
Continuamos sintonizados!!!
Bjs
Inês, Francisco e Pedro

3:50 da manhã  
Blogger pita da vespa said...

Então e a Bolota? :D

4:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá meu amor

Em plenos Picos da Europa ficámos maravilhados com as tuas notícias, sobretudo muito emocionados.Continuas a surpreender-nos com a tua capacidade de adaptacao às circunstancias e em fazeres amigos em todas as latitudes.Sê sempre tu próprio´filhote querido.
Muitos´muitos beijinhos dos cotas.

9:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João,
Cheguei ontem de férias(Rep.Checa,Aústria,Eslováquia e Hungria)gostámos imenso de Budapeste, se pudermos voltaremos a dar esta volta com + tempo.Hoje logo que possível fui dar uma espreitadela no blog,para saber onde anda o meu amigo,como sempre ficamos mais ricos de cada vez que temos noticias novas,recebemos com muita satisfação o seu postal,muito obrigado,continuação de uma boa viagem . Um grande abraço dos amigos de sempre,São e Luis.

6:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tens sempre uma jola fresquinha, um chá e dois dedos de conversa quando voltares…

grande abraço

Hélio

9:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

João Abel,Viajante do meu tempo.
Um dia também eu estive ausente e quando regressei escrevi um poema que agora te dedico:

"Quando o regresso aconteceu
Num instante percebi
Como o tempo correu
Levando coisas que não vi

Mas no encontro das vivências
Eu apenas me actualizei
E dando as minhas notícias
Aos outros eu ensinei

Foi penosa a ausência
Mas que importa se voltei
Mais rico de tanto ver

Porém, foi com impaciência
Tanto tempo que esperei
Naquela oportunidade de conhecer."

(Abril, 1973)

Ponte de Sor, 12 de Outubro de 2007

Manuel Chambel Gonçalves

4:05 da tarde  
Blogger VD said...

Olá João

Sou de Ponte de Sôr, fomos colegas de escola. Na verdade, até morava na mesma rua que tu:)

Lembro-me perfeitamente quando andavas no ciclo preparatório, baixinho e loirinho,e não me esqueço daquela vez em que ficámos todos preocupados por causa de um acidente que tiveste no pátio...

Passados todos estes anos fui reencontrar-te nas páginas do Ecos do Sor, e devo dizer que fiquei orgulhosa de ti. Encontrar um jovem de 33 (?) anos que viaja pelo mundo de bicicleta, é a prova de que ainda há idealismo entre os jovens, (ou melhor, que o idealismo juvenil não consiste apenas em aderir a uma jota-qualquer coisa...), que o espírito de aventura não está só no modelo de carro que se compra.E há também, nas histórias das viagens que relatas(refiro-me à reportagem que li no Ecos), uma lição de humanidade que contraria o espírito do nosso tempo. Aquela história do sr que te ajudou em Espanha e que tu vieste a reencontrar na Argentina fez-me lembrar o filme "Favores em cadeia". Acho que o espírito das tuas viagens é mesmo esse. Um grande abraço e força, coragem para o teu projecto.

Madalena

6:24 da manhã  
Blogger Nuno said...

Olá João,

Chamo-me Nuno e vou (em 01 Agosto 2008) percorrer, de bicicleta; alguns paísis que tu fizes-te.
Gostaria muito de trocar informações contigo.
O meu e-mail é nunopontes@iol.pt.
Boa viagem!

Nuno

7:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

coragem e aventura não te faltam. continua. vai em frente. Quem me dera ter essa coragem! Que sítios lindíssimos!! Como é possível viver-se com tanta simplicidade?! Formidável!

6:28 da manhã  
Blogger Joana Oliveira said...

Olá Joao

Foi o Nuno, o meu companheiro de viagem, que me deu a direcçao do teu blog. E se já é raro encontrar aventureiros Portugueses quando se viaja, entao ciclonautas, é ainda mais raro! Nao te encontrei fisicamente, mas o encontro cibernautico é também apreciado, sobretudo porque escreves e capatas o que vês de uma forma tao especial.O meu nome é Joana e estou a percorrer a América do Sul em bicicleta, quem sabe nos encontraremos por essas estrads que ainda temos para percorrer. Até lá, se tiveres vontade podes acompanhar-me (virtualmente) em www.movimentos-constantes.blogspot.com
Um abraço luso desde a Bolívia

1:10 da tarde  

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