segunda-feira, agosto 06, 2007

McLeod Ganj.



Dia 82, 5041 Km. McLeod Ganj, India.
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Este nao sera um relato de experiencia velocipedica. Ha muito que nao pressiono qualquer dos dois botoes do conta-quilometros (anda sobretudo no bolso; o uso restricto a funcao de relogio).
Houve dias em que as rodas da bicicleta nem se desviaram do padrao de mosaicos que revestia o chao do quarto.
O enquadramento himalaico, o ambiente cultural e a extensa oferta de actividades fazem com que muitos viajantes permanecam em McLeod Ganj muito mais tempo do que alguma vez pensaram. Nao sou o unico a registar sintomas de adiccao.
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Estive quatro noites num primeiro quarto. Bem ruidoso. Os colegas do lado eram eximios em poupar o botao esquerdo do volume da televisao.
Depois, mudei-me para casa de uma familia tibetana. Conheci um dos rapazes no balcao da padaria que exploram. Falou-me que tinham um quarto disponivel e que podia ate ai fazer as refeicoes. Fiquei seis noites.
Nunca comi tanto em toda a viagem como durante estes dias. A comida era optima e sempre variada.
Ontem, voltei a mudar de casa. Agradava-me a familia mas, ao decidir ficar mais tempo, percebi que deveria procurar um lugar mais barato.
Neste momento estou em Dharamkot, 3Km acima de McLeod Ganj. Sossego total. A casa onde agora durmo esta verdadeiramente na montanha.
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Mudando de casa.


Mercado.












McLeod Ganj.

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Afinal, que tem McLeod Ganj?
R: Uma forte cultura tibetana (cerca de 10.000 refugiados), varios cursos (Reiki, Yoga, Tai Chi, Meditacao, Shiatsu, pintura Thangka, cozinha tibetana/indiana, Papier Mache...), boas livrarias, cafes, restaurantes com menus indianos, tibetanos, chineses, italianos, israelitas, continentais... toda a fusao repousando num muito tranquilo ambiente geral.
Por ser um lugar pequeno, vamo-nos cruzando varias vezes e partilhando experiencias.
Aquelas que aqui vivenciamos e as do caminho que ja trazemos.
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A sensacao de que apenas deverei partir quando sentir ter aproveitado as oportunidades do lugar foi tomando conta da vontade de errancia ciclistica. A bicicleta, aliviada dos alforges, e so usada em pequenas deslocacoes.
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Depois de experimentar outras actividades (pintura Thangka e Yoga) e explorado as redondezas do lugar, encontro-me agora numa mais estabelecida rotina.
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Caminhadas.


Escola primaria.


Um amiguito que me acompanhou.

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Neste momento, ocupo as manhas no atelier de "Papier Mache" do Namsullah, de Kashmir, e as tardes no terraco da Rainbow House, a praticar Tai Chi com Natacha.
Mais tarde, subo a empenada encosta que me leva a Dharamkot. Finalmente, por um caminho ainda mais estreito, cruzo duas linhas de agua e chego a minha casa.
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Subindo a Dharamkot.



A nova residencia em Dharamkot.

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Recebo diariamente os sorrisos de tibetanos.
Refugiados, sem direito a nacionalidade indiana apesar de muitos ja aqui terem nascido. Sem direito a auto-determinacao, nem a representar a sua bandeira na competicao olimpica que decorrera no pais invasor e ocupante, responsavel tambem pelo esforco de extincao total da cultura e identidade nacional tibetana bem como do exclusivo ambiente natural...
Eu, nao refugiado mas "privilegiado"; com um passaporte que, quando muito, apenas me demora nas fronteiras; com duas rodas que me garantem explorar a liberdade e levar tao longe quanto desejo... tenho percebido que o mundo pode ser apenas um, aquele do entendimento, dos sorrisos (poderosos gestos de aceitacao), da generosidade, partilha...
Coabitando com as diferencas de padrao cultural, sao estes, factores comuns que servem de base a essas diferencas. Abencoado sou por os continuar a receber ao longo de tao distintos paises.
Querendo que Radio Tamarugo possa ser um veiculo dessa mensagem, tento despertar o interesse pela causa tibetana e favorecer alguns contactos:

www.tibet.com
Site oficial do governo tibetano em exilio.

www.freetibet.org
A campanha "Free Tibet" apoia-se no tentativa dos tibetanos recuperarem o direito a determinar o seu proprio futuro; o fim da ocupacao chinesa e o respeito (agora negado) a fundamentais direitos humanos.

www.2008-freetibet.org
Utiliza o futuro momento dos Jogos Olimpicos de Beijing, 2008, para pressionar as autoridades chinesas no sentido de uma fundamental mudanca na ocupacao do Tibete.

www.tibet.org
Mantido pela comunidade internacional de apoio ao Tibete.
Entre outras informacoes, aqui podera ter-se conhecimento de que o motor de busca "Google" (senhorio de Radio Tamarugo...), criou, em convenio com o governo chines, um personalizado modelo para a China e Tibete. Censura e distorce informacao sensivel para as autoridades chinesas; topicos sensiveis como: "human rights", "democracy", "freedom"...

www.freetibet.net
Informacao geral sobre a causa e campanhas mais urgentes a decorrer.

www.savetibet.org
Campanha internacional de apoio ao Tibete.

blog.studentsforafreetibet.org
weblog de "Students for a free Tibet"

... e por ai fora... nao falta informacao em ambiente virtual.
Tomar conhecimento dos factos sera meio caminho andado para tomar parte na causa, difundindo-a em ambito e accao internacional.
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Sessao de esclarecimento do movimento "Team Tibet".

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So mais uma coisinha...
Desde o primeiro dia que cheguei a McLeod Ganj que conheco o Kesavalureddy.
Este meu amigo tem 55 anos, lepra desde os 23 (controlada, no entanto com duas feridas infectadas, nos pes, decorrentes de operacoes) e um problema pulmonar que, por vezes, lhe torna dificil falar.
O Kesavalureddy nao e daqui. A sua familia, mulher, quatro filhos e mae com 90 anos, vive no sul, em Chitoor (Estado de Andra Pradesh) a 4 dias de distancia entre autocarro e comboio.
Com um sorriso que afasta a evidente pior sorte, Kessavalureddy conta-me que "sobe" ate aqui para pedir junto dos turistas. Tambem beneficia do ambientre tranquilo de McLeod Ganj, dormindo sempre em frente da mesma loja.
Quando a medicacao para a doenca pulmonar estava ja a comprimido e meio do fim, paguei a receita para o proximo mes. Atraves de um motorista de autocarro, fizemos com que chegasse a partir de Delhi.
Pensando tornar Radio Tamarugo um meio solidario e continuar a ajudar o meu amigo (garantir a necessaria medicacao e, talvez, ate adiantar o regresso para junto da sua familia) fiz quatro desenhos que aqui coloco a venda.
Tematicamente sao muito semelhantes e tem a dimensao aproximada de A5.
A tinta com que foram feitos e resistente a agua e a luz solar.
O valor unitario e de 25 euros. Quem estiver interessado podera comunica-lo atraves dos "comentarios", indicando o numero da escolha. A intencao de compra garantira que eu entregue imediatamente esse dinheiro.
A mim, so me pagarao quando voltar e fizer com que, de forma segura, os desenhos cheguem as vossas maos.
Estas ilustracoes continuarao a fazer parte da viagem, preenchendo o interior dos alforges atraves do caminho que se seguir.
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Kessavalureddy e o sorriso de que falei.


1.


2.


3.


4.

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A todos, um grande abraco desde o alto destas montanhas.
Os pedais manter-se-ao em repouso durante mais alguns dias.
Voltaremos a estrada e a outras amplitudes/altitudes com a promessa de manter o registo, esperando continuar a receber a vossa, muito apreciada, companhia.
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Casa onde vivi com a familia tibetana.



McLeod Ganj.


Prayer Wheels em Tsuglagkhang (equivalente ao Jokhang Temple,
em Lhasa, e o mais importante monumento budista de McLeod Ganj).
Adjacente, esta a residencia de Dalai Lama.



Imagens no interior de Tsuglagkhang.


Badmington. Desporto muito apreciado por tibetanos
nas ruas de McLeod Ganj.




A seguir ao almoco, costumo encontrar o "Kim"
(de Rudyard Kipling) e um copo de
"Ginger/Honey/Lemon/Tea" no "Open Sky Cafe".




Proximidades de Dharamkot.





Descendo de McLeod Ganj, em direccao a Dharamsala,
a biblioteca de estudos tibetanos e a sede do
governo tibetano em exilio.



Um monge em trabalho de pintura na
frente da biblioteca.


Sede do governo tibetano em exilio.










McLeod Ganj.

20 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá meu amor
Após ler mais uma das tuas crónicas fico quase sem palavras.És mesmo extraordinário!Agora que acabei de ler "As rosas de Atacama" compreendo como te identificas com Sepúlveda!
É claro que já tens uma compradora para um dos teus desenhos mas primeiro quero dar oportunidade a quem mais estiver interessado.Nao se vê realmente vestígios das desgraças que as notícias nos dao resultantes das fortes chuvadas.Ainda bem.Vou dar a palavra a escritora que se segue.
Um beijo do tamanho da tua generosidade.
Mae

9:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá meu amor!
As tuas narrativas sao uma enorme quantidade de informaçao, mas sobretudo uma mao cheia de emoçoes que nos transmites como só tu sabes...
Ainda nao sou capaz de dizer muito mais porque preciso de ler mais vezes o teu texto para o apreciar como ele merece. Fica já a reserva do desenho 4 que podes considerar comprado.
As imagens que fixaste sao de facto de uma natureza tranquila e verde, que convida ao descanso de corpo e alma, que é o que estás a fazer. O tai chi é sobretudo, julgo, uma técnica de relaxamento e de meditaçao.Sentes os progressos que te reconhecem?
Como estás na montanha, talvez nao se perceba os estragos que as chuvas vao fazendo nos vales...
Amanha escrevo mais.Estamos condicionados pelos euros que se escoam rapidamente.
Muuuuintos beijinhos.
Tia

9:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eh Janecas
Tu a acabares de me telefonar e a mae a telefonar do posto de Internet a dizer que tinhas lá uma crónica impressionante.
Superou em muito as minhas expectativas. Estoy empalagado, como diriam os espanhóis.
Tens um coracao do tamanho do mundo.Continua assim, que estás no bom caminho.
Fiquei mais tranquilo depois de me telefonares. Aqui só se ouvem desgraças dos temporais que estao a assolar o nordeste da India e o Bangladesh.
Um grande beijinho cá do velhadas

9:56 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ola joao tivemos de deecer das montanhas devido a chuva e a um caminho mal sinalizado. assim viemos dormir a uma pensao e como tinha internet vimos o teu blog. Gostamos muito e ainda bem que estas a gostar. Continua o teu caminho errante e nos acompanhamos te sempre que possivel. Beijos Fatima e Augusto

11:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Que saudades de te ler!!! Ah, Ah, o 3 para mim! Já te disse: o que é das paredes da minha casa sem os teus desenhos!...Fico satisfeita de saber que estás bem e que continuas a gostar. Já estava a estranhar a aparente falta de pedalada! Continuo a seguir-te! Bjos, Susana

1:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

João,
Se não tiveres desenho nenhum, podes contar com os meus 25€ para ajudar quem realmente precisa...Fico muito sensibilizado com os teus relatos.
Grande Abraço e continua a espalhar a tua bondade pelos sitios onde passas...
Grande Abraço
Nuno Marzia

3:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João! O quotidiano e as experiências que descreves são inacreditáveis. Prevemos que ainda te vás demorar por aí.
Damos a oportunidade a outros de comprar um desenho, mas podes contar com os 25 euros (e uma lasanha de carne ou vegetais - como preferires) quando voltares a Portugal.

Beijos e abraços.

PS - Não sabemos como o coração ainda te cabe no peito.

4:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João,

Gostaria de ficar com o desenho n.º 2.

Um grande abraço
Martinho

1:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hola Joao!

Creo que me voy a volver un experto en leer portugués!
Me alegro de que estés inmerso en la cultura tibetana, pero lo mejor para introducirte en la cultura es poder dormir con una tibetana...., ja ja ja..

Un saludo desde la republica melocotonera !

Joan

5:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

dearest j

se não estiver já apalavrado, eu gosto muito do nº3, para me fazer companhia e alargar os horizontes aqui no atelier.

beijo grande e continua a tua boa (em todos os sentidos...) viagem.

**su

7:50 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olha João, sabes o q te digo? faz é mais um desenhinho ou 2 que isso merece! a levar esses bafos abençoados do Tibete, a pena até voa!
Do meu lado, podes também contar com o contributo, é com o maior prazer q participo nessa tua magnífica idéia.
Grande abraço, keep going with the good spirit
Júlio

2:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João,
É claro que contribuirei também para uma causa tão nobre, se tiver desenho ficarei com o 1, se tiverem esgotados não tem mal,o contributo fica.Como sempre ficamos fascinados com toda a informação que nos envia, como diz a Sara "não sei como o coração lhe cabe no peito" acredito que um dia há-de ser recompensado por tudo aquilo que dá ao seu semelhante.
Continuação de boa viagem e um grande,grande abraço dos amigos: São e Luis

4:12 da manhã  
Blogger Margarida Girão said...

Sou tua fã sem te conhecer. Grandes 'passeios'.

5:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei deveras contente por descobrir o TAMARUGO e,assim, aprender com as tuas crónicas e belas fotografias. Continua bem e aceita mais este companheiro que vai à tua boleia,desfrutando a tua viagem.
Um abraço e obrigado por compartilhares o que vais vendo.
Cumprimentos para os teus pais que muito admiro,

Agostinho D. Felizardo

4:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estão lindas as fotos e as descrições vão-nos enchendo o coração. Vou imprimi-las para as ler ao miguel...certamente que terá bons sonhos...

Entretanto, gostaria de ficar com o desenho número um...ou o que sobrar..

Mais um beijinho da família sagrense

4:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

João,

Apesar das várias tentativas que tenho feito para ler o blog, só hoje consegui um tempinho para me dedicar com alma e coração às tuas maravilhosas descrições.
Já vim tarde para a compra de um dos teus lindos desenhos, mas de qualquer forma podes contar com o meu contributo dos 25€.
Já não sei quem escreveu, mas é uma grande verdade: Não sabemos como o coração ainda te cabe no corpo.
Trago-te noticias do teu Alasca. Estive lá a vê-lo e a fazer umas festas. Está óptimo, mas com algumas saudades do dono como seria de esperar. Mas não te preocupes, continua brincalhão e só quer correr.
Sabes que o Francisco, à sua maneira, adora ver as fotografias do blog a passar!
Não sei quando vais voltar a escrever nem quando vou voltar a ler, mas estás sempre no meu pensamento.
Muitos beijinhos
Inês

5:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá João!
Sigo com enorme interesse as tuas reportagens.A tua "escrita"comove-me e delicia-me.Obrigada por partilhares connosco as tuas vivencias.Valorizo muito a tua sensibilidade.Participo com os 25 euros independentemente da aquisiç
ão do desenho(gostaria de vir a ter um outro... quando possivel!).
Bjs.
Ilda Menaia

12:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hey, Joshua!
Bom trabalho, caminheiro.

Pena

1:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá João!
Fico muito sensibilizada com o que escreve e como escreve.São descrições repletas de sentimento e de calor humano.
Há uma doce mensagem que chega ao leitor levando-o a reflectir que a essência da Vida reside nas coisas simples.
Encanta-me a sua generosidade.
Contribuo com 25euros prescindindo do desenho uma vez que as solicitações são muitas o que muito me congratula.
Bjs
Vitalina Batista

3:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ola Sparrow.

Ha muito que não voava por aqui. Quero transmitir te que terei muita honra em contribuir com os 25 euros e não é preciso desenho. Gostei das fotos da floresta, como é habitual.

um beijo
cotovia

3:17 da manhã  

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