sábado, março 18, 2006

Enfraquecer de sinal


_João. Bariloche, Argentina. Fevereiro de 2006. Foto de Cecilia.

"Ven al circuito del desierto,
a la alta aérea noche de la pampa,
al círculo nocturno, espacio y astro,
donde la zona del Tamarugal recoge
todo el silencio perdido en el tiempo"

Pablo Neruda _ Canto General
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17 de Março de 2006. Estou no Hemisfério Norte há 7 dias.
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Muito perto respiram ainda as últimas memórias de Santiago do Chile.
Os derradeiros dias, passados na capital do país por onde tive o privilégio de viajar, são guardados com verdadeiro carinho que destino às pessoas que me acolheram. Mais uma vez confirmei este sopro de sorte que me acompanha e que recheia tantos dias com encontros de uma importância sem medida.
Das várias hipóteses de alojamento disponíveis em San Pedro de Atacama, a casual escolha foi coincidir na pequena distância que separava a minha tenda e as idênticas residências temporárias de tela do Claudio, Lucy, Matias, Mauro e “la abuela”, mãe de Lucy.
Como sou um “chico-silencio”, de tantas e orais palavras travadas por uma inércia de timidez, foi o Mauro que favoreceu a conversão da estreita distância física num alargar de discurso, fluído também em tragos de cerveja e “piscola”.
As “boas-noites” do final deste serão já traziam um convite para jantar no dia seguinte, que seria precedido de uma visita conjunta ao “Valle de la luna”, onde apreciaríamos o especial pôr-do-sol.


_Mauro e Matias, Valle de la Luna. Janeiro de 2006.


_Matias, João e Lucy. No carro, regressando do Valle de la Luna (San Pedro de Atacama). Fotos de Mauro.

Quando nos despedimos, na manhã seguinte a este jantar, tinha o convite para me alojar quando regresasse a Santiago. Autêntico, como se percebe quando não há contornos de cortesia mas um verdadeiro desejo de reencontro.
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Muito caminho e tempo depois, passando por uma feliz tentativa (porque lograda) de reaver os contactos dos meus amigos (que tinham sido perdidos no “pack” entregue ao lado negro da lei) volto a Santiago onde me encontro na mesma manhã com Mauro, “a las 10h00, frente al Estadio Nacional”.
Do tempo que passei, agraciado pela sua companhia, numa disponibilidade sem limites para que a minha estadia em Santiago fosse tão agradável quanto possível, já contei quase tudo no post anterior.
Pretendo com esta introdução fazer mais uma tentativa para reforçar este esboço de agradecimento a pessoas de enorme generosidade que se empregaram tanto, desinteressadamente, em me receber com uma amplitude de braços que não conhece limites.
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A Lucy e o Claudio saíam sempre muito cedo de casa. O Matias era transportado envolto num cobertor e no seu continuado sono.
Apenas ao fim do dia os voltávamos a ver.
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Na última noite que passei em Santiago, mesmo com o cansaço próprio de uma semana de trabalho com horários tão esforçados, os meus amigos não deixaram de propiciar uma despedida tão bonita como o primeiro encontro. Houve lugar para um rico “asado”, com variados acompanhamentos.
Estava também o Julio, licenciado em eco-turismo, amigo de Mauro e de toda a família. Depois do jantar trocámos experiências sobre a carretera austral, onde vive.
Na mesa, claro, copos de “piscola”.
Ofereceram-me um livro de Neruda, “Residencia en la tierra”, com dedicatórias. A tinta de caneta completava a sensibilidade das palavras do autor.


_Claudio, Mauro, Lucy e Julio.

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Com o Mauro, ainda fomos ver um concerto de Hip Hop de “Los Mestizos” a “La Batuta”, discoteca junto à Plaza Ñuñoa.
Voltámos cedo. Não podia iludir as evidências. No dia seguinte teria que embarcar, pela manhã, fazendo valer a segunda parte do bilhete electrónico adquirido na Air Madrid, que correspondia ao regresso.
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Saímos cedo de casa, 08h30, nas nossas bicicletas. O meu aparato sobre rodas voltou à sua configuração mais volumosa e assim, durante cerca de 30 minutos, integrámo-nos no desafio próprio de adaptar pedais a um meio de nervosas e matutinas acelerações a motor.
A partir do centro, parte a cada meia-hora uma autocarro da TurBus. Há pelo menos outra companhia a efectuar o mesmo trajecto mas não têm “maletero” para bicicletas.
Pretendíamos chegar a tempo de tomar aquele que saía às 9h00. O Mauro ainda o viu… a dobrar a esquina. Nada de preocupante, o das 9h30 trazia também uma grande margem de segurança para o embarque no vôo NM 1432, com destino a Madrid.
Estes últimos minutos, até finalmente subir no autocarro, foram preenchidos por um “café solo”, outro “cortado” e um abraço de real amizade com a vontade e certeza, manifestamente mútua, de nos voltarmos a encontrar.


_A caminho do aeroporto. Santiago do Chile. 9 de Março de 2006.

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Muchas Gracias, Mauro, Lucy, Claudio, Matias por vuestra imensa y inolvidable generosidad. Por todo esfuerzo en propiciar que mis dias en vuestra casa y vuestra ciudad fuesen lo más agradables posible. Por tantas lecciones sobre simplicidad. Quisiera saber expresar mejor mi gratitud pero es tanto cuanto alcanzo. Ojalá un dia os pueda retribuir. Seguramente nos volveremos a ver y eso es el mejor aliento.
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O check-in não foi rápido e isento de contrariedades como supunha.
A bicicleta não ia embalada. Apenas removi os pedais, tornei o guiador paralelo ao quadro e esvaziei os pneus. Voltei assim da Argentina e de Cuba (fazendo também dois vôos domésticos em ambos países). Desta vez não foi tão simples. Para embarcar teria que ter a bicicleta revestida de modo a proteger a integridade da bagagem dos outros passageiros. E agora? Faltava uma hora para o vôo e no aeroporto não abunda o cartão…
Acabei por embalá-la, ajudado pela vontade sul-americana em resolver problemas, não perpetuando os iniciais “nãos” em cómodos e definitivos inibidores da vontade.
Dessa maneira, gastei os últimos 5000 pesos (cerca de 8 euros) em celofane. A bicicleta, na vertical, fartou-se de rodar na máquina dispensadora de película plástica, ao ponto de se converter numa disforme massa com características espaciais. Estava realmente… embalada. Poderia mergulhá-la num meio líquido sem risco de corrosão.
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Voltei ao balcão. Esperei de novo pela minha vez atrás do casal que “despachava” um caniche. Cruzaria o Atlântico numa gaiola que me pareceu demasiado reduzida para as 13 horas em que aí estaria confinado.
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Como o bilhete tinha sido comprado pela internet, para levantar o talão de embarque apenas o passaporte me servia de identificação. A referência dizia respeito ao meu anterior documento. Até aí tudo bem, pois na embaixada tinham colocado uma nota, devidamente autenticada, neste passaporte, fazendo referência ao número extraviado.
O problema surge quando me dizem que, no computador, o meu nome está associado a um bilhete “físico”, não electrónico, e me pedem para o apresentar.
Ainda desconheço as razões desta frequência mas, regra geral, tenho problemas com balcões e guichets. Este era suficiente alto para ocultar as inúmeras “tatuagens” de dentes de roda pedaleira, marcadas quase definitivamente com expesso e negro óleo no tecido das minhas calças. Não sei se a aparência é chamada ao caso. O certo é que a atitude do funcionário foi fixar-se a olhar para mim, insistindo com desconfiança que eu teria que entregar o tal “boleto” (que nunca tive). Preocupou-se em confirmar com um colega do lado que a referência dada pela informação do monitor me declarava portador de um bilhete. Só após uma demasiado longa reticência averiguou, finalmente, num telefonema para a companhia, a veracidade da minha “defesa”.
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Através da “Puerta 14” acedi às lojas de souvenirs e demais parafernália das compras de aeroporto. Como não tinha nem moedas para um café passei os últimos minutos a observar o tráfego da pista e telefonei para casa, a “cobro revertido”, como usual.


_Avião "Puerta de Alcala". Santiago do Chile.

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Esta viagem de avião foi um pouco mais aborrecida do que aquela que me levou ao Chile. Não havia filmes e o intervalo entre refeições foi muito distendido, ao ponto de ouvir a palavra “hambre” a partir de vários assentos.
Muito perto de mim viajava um espécime particular de decoro que falava muito alto, bocejava também o mais sonoramente possível entrecortando a amplitude bocal com palavras como “joder, joder, joder…”; chamava as hospedeiras de “guapa, rubia” e similares “apodos” e oferecia-lhes bombons. Quando aterrámos, bateu palmas e cantou, no mesmo esforço para adequar o volume da melodia (de autor) à correcta escuta de todo o avião: “este capitán tiene buenos cojones…”.
Quem precisa de filmes?
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Aterrámos às 05h15. O primeiro avião a pousar em Barajas nessa madrugada.
A demorada espera pelo movimento da cinta de bagagens conduziu à recolha de um alforge da bicicleta completamente trucidado. Alguns dos elementos do seu interior conheceram o mesmo trágico final da sua utilidade.
Envolver a bicicleta em plástico protegeu as demais bagagens das suas formas pontiagudas mas o meu equipamento andou por outros caminhos de tortura.


_Em tempos, foi um alforge de bicicleta.


_ ... mais uma vítima da abrasão da pista do aeroporto (?)

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Os meus pais estavam à minha espera. Viajaram no dia anterior e andaram na noite madrileña até serem horas de nos encontrarmos, finalmente abraçarmo-nos e encerrar o capítulo das saudades.
O meu pai conduziu em todo o imediato regresso sem que o pudesse ajudar pois a minha carta de condução (que tinha levado ao Chile) conheceu o mesmo destino (lá para os lados de Puerto Montt) que o outro, menos rosado e mais “grenat”, elemento de identificação.
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Há tantos dias que estou cá, com acesso permanente à internet e deixei cair a frequência destes relatos para o nível zero.
O regresso não é de todo fácil. Quase imediatamente, troquei o selim da bicicleta por uma cadeira menos confortável, os encantos de um caminho feito pela primeira vez por um espaço fechado, artificial e mal ventilado; os surpreendentes encontros de um país tão hospitaleiro por uma conhecida rotina com tantas situações “de plástico” (como diria o Augusto).
Voltei mais rico, sem dúvida. É um grande privilégio poder “pôr o pé na rua”, conseguir partir sem maiores receios e ter, superando o que alguma vez pude imaginar, vivido tão generosos gestos.
O Chile foi uma aposta com um nível muito baixo de “riscos”. Tinha a confiança de viver a hospitalidade que experimentei na Argentina, a “dose” de soberbas paisagens traz brilho aos olhos para muitos meses, “aclarando” momentos com menos luz, e já sabia que me sinto bem avançando a golpes de pedal, para além de, por si só, a bicicleta ser um catalisador de simpatias.
A grande surpresa foi este blog. A maioria da, pouca, leitura que faço refere-se a literatura de viagens (na sua maioria em castelhano, onde o leque de oferta é bastante extenso).
Quis experimentar estar também “do lado das letras” nesta viagem. O que nunca pensei foi ter tantas respostas. Tantas pessoas fielmente envolvidas. Deixei mesmo de andar sozinho e tornou-se este “contacto” em algo grande, tão significativo como a própria viagem. Pedalava pensando em quem me haveria respondido, esforçava-me por corresponder à dedicação.
É para mim, esta “compilação”, um documento muito, muito importante. Para além de ser um registo de momentos e sensações da viagem (que perderia do lado útil da memória, inevitavelmente, se não os tivesse escrito) está recheado de carinho, de visitas constantes, muitas felizes surpresas, “confirmações” de afecto e de muitas palavras que se calhar nunca seriam ditas.
Devo muito ao facto de os pontos de internet serem o “negócio do momento” no Chile, o que favoreceu alguns picos de potência da Rádio Tamarugo em zonas insuspeitáveis.
Apenas posso esboçar uma tentativa de agradecimento pela vossa constância, pela vontade ricamente manifestada de me acompanharem; bem haja também a quem nunca se apresentou mas que suspeito ter sido visita, mais ou menos, assídua.
Espero que tenha sido um prazer “partilhado”. No que me toca, sei que me fartei de ganhar com esta “troca”.
Agradeço a quem, “em terra”, fez com que estas “novas” sempre chegassem à gerência (os meus pais) acompanhadas do correspondente e efusivo alarido (muito obrigado, Jorge e Rui Martins).
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Agora, Rádio Tamarugo tem que viver um enfraquecer de sinal. Não é uma porta já fechada mas que se encosta. Está dependente do vento e das suas caprichosas correntes de ar saber que movimento terá.
Criei uma caixa de email: radio.tamarugo@gmail.com
Quem estiver interessado em receber informações acerca de eventuais aberturas de transmissão poderá enviar o seu email. É a garantia de um aviso.
Há, em projecto, a ideia e vontade de organizar uma viagem, em grupo, de bicicleta pela carretera austral, com carro de apoio, entregando toda a logística inerente ao itinerário.
“Pré-interessados” em ter informação acerca destas “movimentações” podem deixar também um contacto.


_Sendero de Alerces. Parque Pumalín. Fevereiro de 2006.

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Mais uma vez, sem nunca ser demais, muito obrigado,
eu deitei a semente, tamarugo cresceu graças a todos.

segunda-feira, março 06, 2006

360º



360º volvidos, um círculo fechado que começa e termina em Puerto Montt. A 16 de Fevereiro tomei o sul como destino (encantado pelo apelo da carretera austral) e a 4 de Março concluí esta volta, num curto regresso de cinco dias (um deles com apelido "marítimo").

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Desde Chonchi, último relato conhecido da radiofrequëncia apadrinhada pelo espinhoso arbusto de Atacama, pedalei facilmente até Castro, a cerca de 20 Km.


_Caminho a Castro.

Aí estive uma parte da manhä. Visitei a igreja, tomei o café que desejei em todos os quilómetros das primeiras horas desse dia e comprei um livro sobre uma viagem através de um "sendero" criado há quatro séculos pelos "tejueleros" que trabalharam na construçäo das igrejas de Chiloe. Por este caminho, aberto em compacta floresta, chegavam à mata de alerces.
Agora, parte integrante do Parque Nacional de Chiloe, parece continuar a ser um grande desafio, pela morfologia do terreno, a densidade do bosque e os cursos de água (com variaçöes imprevisíveis de caudal) que é necessário vadear. Começa a cerca de 15 a norte de Castro, no sector de Pid Pid, e, para Oeste, termina na foz do rio Abtao, no Pacífico.
Uma sugestäo para outra visita...



_"Palafitos" de Castro.

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A Iglesia de San Francisco (Património da Humanidade) foi construída pelos franciscanos, sucessores dos jesuítas, em substituicäo das igrejas que se incendiaram em 1861 e 1902.
Projectada pelo arquitecto italiano Eduardo Provasoli, a sua construcäo estava prevista em alvenaria mas acbou por ser realizada totalmente em madeira por artesäos locais.
Num dia de sol, como aquele em que a visitei, todo o trabalho em madeira resplandece com a luz e a cor filtrada pelas rosáceas.
O exterior está revestido por chapas pintadas de ferro zincado.






_Iglesia de San Franscisco. Castro.

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De Castro, avancei cerca de 15Km para Norte, abandonando a ruta 5, para Este e para Dalcahue (a 22 Km).


_Chegada a Dalcahue.

Aí comi parte do carregamento de pëssegos que transportava. Aliviei a carga dos alforges, transferindo-a e sujeitando-a ao processo digestivo do ciclista.
Visitei o mercado tradicional de "artesanos", junto ao cais. Estive tentado a ver o fundo da gamela de um caldo de marisco. A tempo, achei exagerada a "alabanza" e näo cheguei a empurrar nenhuma das sugestivas portas das "cocinerias del puerto".


_Mercado de Artesanos de Dalcahue.


_Cocinerias del Puerto. Dalcahue.

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_Iglesia de Nuestra Señora de Los Dolores, 1858 (Património da Humanidade) e museu religioso. Dalcahue.

Desde Dalcahue, uma empinada subida leva ao cruzamento "donde esta la Virgen" e aí comeca a estrada de rípio (terra semi-compactada com pedra).
Inicialmente para Este e depois para Norte,a partir de Tocoihue, trata-se de um percurso exageradamente ondulado com tráfego intenso que, com geológicos projectéis, desafia a integridade das minhas canelas e me envolve em mastigáveis nuvens de pó que duram... e perduram. Desço e subo constantemente.



Passo por vários cruzamentos que levam a pequenos "pueblos" junto ao mar. Näo tomo a direccäo de nenhum porque quero chegar a Quemchi ainda esse dia e me apercebo que o nível da empreitada é bem mais alto do que pensava. Pedalar neste tipo de terreno, ao longo de 50Km, em que o atrito nunca deixa de desafiar a cadëncia pedaleira, agravado pelas sucessivas subidas e descidas, revela-se um desafio fora do "presupuesto".


_Construçäo de uma ponte.

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Felizmente, para além das paisagens (pequenas propriedades de cultivo e uma ou outra vista de mar) encontro outros pontos de interesse.
Entrei num estaleiro para apreciar um barco em construcäo. Conheci um rapazito que me disse que era o avö que os construia. Andava "fugido" de uma anunciada sova da mäe. Quando ela o chamava, escondia-se num canavial onde ia conversando comigo. Tornei-me amigo da causa (sem conhecer os pormenores ao processo), fazendo os possíveis por näo o delatar.
Disse-me que demoravam um a dois meses para concluir uma embarcacäo. Quando lhe perguntei como os levavam para o mar (porque ali só havia um pequeno arroio, näo navegável) respondeu: "se los tiran".(?)




_Estaleiro naval.


_Pregos de cobre.

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Cheguei a Quemchi com muito mais lua que sol. Até os 2 ou 3 Km, que antes da povoaçäo já säo asfaltados, requerem várias vezes a combinaçäo extrema da transmissäo para as mais íngremes subidas. A pequena roda pedaleira e a irmä maior do conjunto da "cassete" näo se podem queixar de falta de uso.
Estava cansado e satisfeito. Tinha cumprido o objectivo e chegado à terra berço de Francisco Coloane.
Fiz um pequeno "recorrido" pela "Costalera". Averiguei possíveis lugares para uma recompensa gastronómica e outros onde me entregar a um posterior e horizontal descanso.
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No restaurante "El Chejo" dei como terminada a escolha. Salmäo também fez parte do investimento. A senhora que me serviu era bem simpática e recebeu-me com um largo sorriso. Só depois percebi que a origem desse relaxamento facial se deveria também ao meu estado. Um espelho da casa-de-banho (sem água, por um corte temporário) revelou que tinha a testa toda negra (pó devidamente aglutinado com suor), o "penteado" bem definido pelos respiradores do capacete, as pestanas e a barba como prateleiras de um pó fino e claro. De pouco serviu recorrer às torneiras. Papel e uma limpeza "a seco" remediaram a aparëncia.
No final da refeicäo (que estava óptima e suficiente para reconfortar as mazelas do esforco que a precedeu) uns rapazes de outra mesa convidaram-me a partilhar das suas "litronas" de cerveja. Näo tardei em aceitar o convite.
Ao sair já tinha a sugerëncia quanto ao local mais económico para dormir: "en el hospedaje delante de carabineros".


_Restaurante "El Chenjo". Quemchi.

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Ao ver estacionada uma carrinha "destartelada" de carabineros, com pelo menos um pneu em baixo, percebi que aí devia ser o local.
Toquei á campainha e, antes de mais, fui recebido com um aperto de mäo. Como sempre, tentei baixar o preco inicial, conseguindo, em 1000 pesos. Pagaria 4000 pesos (menos de 7 euros) por essa noite.
Trata-se de uma grande casa com dois pisos. O "baño" está no rés-do-chäo. Ainda näo há água. O duche fica adiado. É uma pena pois os lencóis estavam bem brancos.
Foi-me fornecido um balde, "para que no tengas que bajar al baño por la noche".
Antes de dormir coloquei a informacäo mais ou menos "al dia" com a leitura de "La Tercera" (um jornal chileno).
O sono foi reparador mas muito interrompido por uma demorada sessäo de encontros e discussöes caninas no terreno vizinho.


_"Hospedaje" em Quemchi.

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Pela manhä já havia água mas näo vontade de banho. "Que hacer?", uma pessoa habitua-se...


_"Negocio" na calle 18 de Septiembre. Quemchi.

Preocupei-me mais em sair para comer. Comprei a dose diária de päo, queijo, iogurtes e fruta no "supermercado Casa Vera". Comi junto ao tosco busto de Coloane (a única referëncia que encontrei) e "juntos" observámos a placidez das águas e os dorsos a descoberto dos barcos atracados em maré baixa.


_Busto de Francisco Coloane. Quemchi.

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Tentei tomar um café no "El Chejo" mas ainda estavam em tarefas de "aseo".
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A saída de Quemchi, para Oeste, ao encontro da ruta 5, começa com uma desafiadora subida e sempre assim será (descida/subida) ao longo de 22 Km até ao cruzamento ao nível de Degán.


_Degán, ruta 5.

De novo para Norte ao longo da ruta 5 pontuo a "cicletada" com o café adiado desde Quemchi. Trata-se de um restaurante daqueles que servem generosos menús para os profissionais do volante e onde se lê numa das paredes, quanto à preferência desse lugar: "cientos de camioneros no pueden estar equivocados".
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Chego a Ancud ainda cedo.
Passeio pela "costalera" e vou seguindo indicaçöes de campings.
Encontro um belo local, com uma grande vista sobre o mar. Numa cabana alugada está uma família de holandeses. Um rapazito vem dizer-me, num castelhano bastante entendível, que era o dia do seu aniversário. Fazia 6 anos.


_Camping em Ancud.

Deixo a bicicleta e caminho até à cidade.
Como uma "paila marina" (sopa com distintas variedades de marisco) no restaurante "El cangrejo".
"Gasto" o resto do dia na Plaza de Armas assistindo a jogos de matraquilhos e regresso ao camping onde dormi sobre uma superfície de cimento e abrigado pela copa de uma árvore. A noite foi bastante húmida. A parte näo coberta do saco-cama estava bem molhada, assim como a bicicleta e a roupa que tinha lavado. Como saí tarde acabou por secar tudo com o impiedoso sol da manhä. Que diferente era o clima de Puerto Cisnes!...


_Ancud.

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Parti sem pressas. Sempre esperando a dose diária de subidas que caracterizou os dias anteriores de Chiloe.
Há uma subida poucos quilómetros depois de Ancud mas a partir daí o trajecto é muito rolante e o vento também andava de feiçäo.
Volvidos 15 Km encontro o "Parque Ecológico e Mitológico de Chiloe".


_"Bienvenidos al bosque maravilloso".

Trata-se de uma pequena área (1,5 hectares?) onde um senhor construiu um parque botänico e "povoou" o percurso com referências aos mitos de Chiloe. Há uma parte onde existe um bosque com todas as árvores existentes na ilha. Um alerce com cerca de 1 metro de altura tem... 40 anos.
Como despedida, conheci a casa onde vive (quando me encheu a garrafa com sumo). Foi construída por si. Ele näo tem origens em Chiloe. Um dia percebeu que Santiago já näo o podia acolher, comprou este terreno e foi trabalhando-o para receber visitas, sobretudo de escolas. Aí vive há 11 anos.
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Cheguei ao porto de Chacao por volta das 3 da tarde. Parecia possível chegar a Puerto Montt nesse dia.
Mal cheguei ao cais havia um ferry pronto a partir. Para variar, näo consegui nenhuma carrinha que me levasse a bicicleta e paguei 1500 pesos pelo transporte da mesma. O "condutor" vai incluído.


_Porto de Pargua (já no continente).

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Com o pé no continente separava-me uma distância de 59 Km a Puerto Montt (afinal, os 95 Km que pensava säo contados desde Ancud e näo desde Chacao).
O vento continua a colaborar. Há extensas rectas de terreno plano. O trânsito é muito intenso mas as bermas säo largas e garantem a segurança.
Chego a Puerto Montt ao anoitecer.
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Alojo-me na mesma casa onde deixei guardada uma mochila. O nível de ocupaçäo está "a tope". Já näo fico no quarto com o poster dos "Kiss". Desta vez calha-me um anexo onde através de um labiríntico e estreito corredor existe um quarto, no sótäo. Em vez do poster está afixado um recorte da... Playboy.
Junto à porta deste segundo edifício fica a casota da "Lassie", uma collie com uma ninhada (de 3 dias) de 9 cachorros.
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O dia seguinte é de temporal (felizmente fiz a ligaçäo de Ancud no dia anterior).
Compro bilhete para Santiago e viajarei no final do dia. Escolho outra companhia para juntar ao extenso rol. Agora foi "Cidher Bus".
Há que passar todo o dia em Puerto Montt.
Esta cidade parece sempre rejeitar-me. A primeira vez foi o roubo, a segunda passei muito tempo a tentar resolver um problema bancário quando os "cajeros" deixaram de colaborar com o meu cartäo. A terceira, foi este dia muito chuvoso. As hipóteses de recreio já eram escassas e com este tempo tudo se agrava.
As horas väo passando pelas páginas de "La huella del Abtao", cafés, empanadas de manzana, a "libreria de Falabella"...
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O autocarro parte às 19h15 e chego a Santiago às 8h00 da manhä. Cobram 2500 pesos pelo transporte da bicicleta por näo ser considerada "equipaje convencional".
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Às 10h00 encontro-me com o Mauro (os amigos que tinha feito em San Pedro de Atacama...) em frente ao Estádio Nacional, onde há poucos dias estiveram os U2.


_Santiago. Como a "Praça do Chile", em Lisboa.

Estes novos amigos recebem-me com toda a sua simpatia. Voltei a brincar com o Matias (4 anos) que me chama dizendo: "quiero jugar con tu".
Ele "cedeu-me" o seu quarto, onde é impossível alguém sentir-se só. Durmo muito bem acompanhado pelos personagens de "Madagascar", "Las locuras de Konk", "Los 4 fantasticos", pela "Minnie", o "Donald", o "Gooffy"... Também está o "Chicken Little" e o "Winnie the Pooh". À entrada, näo há que enganar, na porta pode ler-se: "Matias, el más bakan!!!".
Para esgotar todo o risco da falta de companhia, a Kuky (uma cadelita de 9 anos) dorme aos meus pés.
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Tenho andado sempre com o Mauro, a "carretear" pela cidade. Fazemos os possíveis por reconhecer todas as marcas chilenas de cerveja. Desde a Plaza Ñuñoa, aos sucessivos bares do bairro Bellavista. Decididamente, "La Nona" tem o registo da melhor frequëncia.


_Pátio em "Providencia", Santiago.


_Mauro.

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Ontem participámos numa "cicletada" de protesto pela criaçäo de ciclovias na cidade.
Foi organizada pelo movimento "Furiosos ciclistas" e realiza-se todos os meses.




No final devíamos ser umas 4 centenas. Os carabineros däo apoio na regularizaçäo do trânsito. O objectivo é pedalar por um circuito determinado, fazendo bastante ruído.
O trânsito complica-se bastante já que ocupamos todas as faixas de largas avenidas.
Como era véspera do Dia Mundial da Mulher, distribuíamos flores junto com folhetos reivindicativos.



Muito barulho e slogans tipo: "Llovendo, nevando, en auto ni cagando" ou "Ya van a ver cuando los ciclistas tomen el poder".



_Também estavam "Los choperos"...

A volta termina já de noite em frente ao Museu Nacional de Bellas Artes. Foi lido um comunicado com os "logros" que se väo conseguindo e o apelo a uma viagem a Valparaíso, a cerca de 130 Km. Aí vai ser a tomada de posse de Bachelet, dia 11. Os ciclistas faräo o trajecto de noite. Julgo que vai ter bastante impacto se a cobertura for adequada.
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As nossas bicicletas acabaram encostadas na grade em frente a "La Nona" onde nos hidratámos e nivelámos de novo as energias perdidas com uma dose "contundente" de "Chorrillana" (batatas fritas, com carne, enchidos e ovo).
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Este ainda näo é um último relato de emissäo. Haverá uma espécie de "despedida oficial" nos próximos dias. Enquanto näo recolher o "trem de descolagem" do aviäo da Air Madrid, tudo será matéria para Rádio Tamarugo.
Muito obrigado a todos por participarem e continuarem sintonizados.

quarta-feira, março 01, 2006

Barcaza Alexandrina




Enquanto assitia, em Puerto Cisnes, ao dilúvio universal, recolhia madeiras e consultava acerca do preço de "clavos" na "ferreteria willy", para construir a minha "arca", tive conhecimento de que, cada "Martes" saía um barco para a ilha de Chiloe.
Estava saturado de chuva. Cada vez que punha o pé na rua regressava como que de uma imersäo. Felizmente o fogäo da Sra. Luz Eliana Altamirano Monje carburava sempre farto de lenha e pouco lhe incomodava que o adornasse com a minha roupa e que as botas fossem já assídua companhia dos tachos.
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Comprei a passagem para Quellón (no extremo sul da ilha grande de Chiloe) num "centro de llamados", na parte mais alta de Puerto Cisnes, onde também vendiam artesanato feito com "piel de pescado".
Esse dia foi quase inteiramente dedicado à leitura, na biblioteca municipal, de uma selecçäo de contos sul-americanos sobre naufrágios (consulta apropriada para a viagem que se aproximava...).
Também consegui trocar 20 dólares com o "gasolinero".
O Sr. Mariano, dono da "Ferreteria Willy", era outra opçäo (por ir frequentemente à Argentina) mas näo o consegui encontrar.
Mais uma vez, voltei ensopado à "hospedaje". Desta vez, acenderam uma salamandra na sala onde costumava estar. Aproveitando o privilégio, lavei roupa, que se secou "al tiro".
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Näo tenho imagens de Puerto Cisnes porque chovia constantemente e por näo querer classificar de "out of order", duas câmaras fotográficas no espaço de um mês.
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Ao seräo, assisti na televisäo ao directo da última noite do festival Musical de Viña del Mar, com Franz Ferdinand.
A partida do barco estava prevista para as 06h30.
Cheguei a essa hora ao cais, ainda de noite, sem chuva. Começando por ser um minúsculo ponto ao longe, a rampa do transbordador só tocou o cais por volta das nove.
Nesse tempo de atraso conheci a Andrea que introduziu conversa com "se hace larga la espera...". Esteve 3 meses a trabalhar em Puerto Cisnes, no restaurante "El Panorâmico" e agora voltava para a sua casa em Temuco. Acabou por ser a minha companhia de toda a viagem.
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Ainda tentei que a única carrinha de caixa aberta que embarcava me transportasse a bicicleta para poupar esse bilhete mas o condutor näo se mostrou disponível. Tive que pagar 7700 pesos. Na verdade, é um valor exorbitante para um objecto que pouco pesa e cujo espaço ocupado no ferry näo tem significado. A minha passagem custou 10.820 pesos (preço de turista, com direito a "butaca" - assento pullman).
A barcaza já vinha de Puerto Chacabuco, a sul. Trazia alguns camiöes e duas ovelhas.
Quando embarcámos, no "salon-comedor" havia várias pessoas a dormir no chäo.
Pouco depois, começou de novo a chover.


_Saída de Puerto Cisnes

A viagem seria de 24 horas.
A Andrea näo tinha conseguido bilhete de "butaca" e disse que näo dormiu nada na noite anterior, nervosa de perder o barco. Vesti-me de cavalheiro e ofereci o meu lugar para que descansasse. Como recusou, nessa manhä entreguei o meu sono, mais uma vez, à posiçäo pouco cómoda de uma banco de autocarro em versäo marítima.
Quando despertei já näo chovia. Passei muito tempo no "terraço", vencendo o frio para ganhar a vista. Percebi que o "melhor lugar" era encostado à quente chaminé do motor. Havia duas. Era só escolher qual a menos fustigada pelo vento.
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A primeira paragem foi na Isla Toto. Como a barcaza näo se podia aproximar pelo estreito canal que levava à povoaçäo, atracou numa pedra e foram chegando vários botes impulsionados por motores de 40 cavalos. Traziam e levariam passageiros e carga.



_Isla Toto

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Em toda a viagem só vi quatro "toninas" e um lobo marinho. Falaram na possibilidade de avistarmos baleias mas a expectativa näo se concretizou.






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Como andava "corto de plata", pesos chilenos, os únicos investimentos no balcäo da cafetaria foram em dois nescafés, estrategicamente adquiridos nos piores momentos de frio.
Tudo o resto que ingeri foram os meus aprovisionamentos de mais sandes de queijo e "cecinas variadas" (fatias de mortadela de várias cores e níveis de gordura semelhantes). A fechar a variedade do menú, que se repete há 5 ou 6 dias, havia maçäs e pêssegos.
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A barcaza voltou a parar em Santo Domingo. Um lugar onde parecia haver apenas uma casa. Alguma estrada também haveria, porque embarcou um carro.


_Santo Domingo

A faixa de água por onde navegamos é chamada de "mar interior".
A origem desta singular geografia deve-se a fenómenos geológicos e climáticos: o movimento da crosta terrestre e o período glaciar.
Este longo período cobriu a zona com uma expessa e pesada camada de gelo que afundou o "Vale Central" (entre o continente e a actual ilha de Chiloe). Os glaciares desceram pelas rupturas da superfície terrestre, erosionando-a e gerando os actuais vales e "fiordos". Ao derreter-se o gelo, o mar ocupou o "Vale Central" e penetrou pelos "fiordos", criando este esplêndido "mar interior", onde os cerros mais altos sobressaem como ilhas do arquipélago de Chiloe.
A "Ilha grande de Chiloe" é a segunda maior ilha sul-americana, depois da Terra do Fogo, tendo 180 Kms de Norte a Sul.


_Raio X à caixa toráxica.

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_Cai a noite no mar austral.

Quando o barco se deteve em Melinka eu já tinha sucumbido às forças de Morfeu. Aí entrou muita gente.



Pela manhä, o "salon comedor" já näo tolerava mais sacos-cama e havia 6 "igloos" montados na popa.


_Primeira tenda montada na popa.

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Chegámos a Quellón por volta das 11 da manhä.


_Chegada a Quellón.

A Andrea foi comprar um bilhete nos "buses Cruz del Sud" para Ancud, no norte da ilha, e eu dei início à jornada de pedais que terminou aqui, em Chonchi, a cerca de 75 Km do ponto de desembarque.
Penso cruzar a ilha em 3 dias. A norte, uma pequena travessia deixar-me-á a 95Km de Puerto Montt, até onde pedalarei, para recolher alguns livros que deixei guardados e tomar um autocarro a Santiago.
Desde Puerto Montt a Puerto Cisnes fiz cerca de 560 Km através da maravilhosa carretera austral. Pensava chegar a Coyaique, (150 Km, a sul) e regressar em autocarro, que faz parte do traçado através da Argentina, a Puerto Montt. Assim, com esta travessia marítima, farei uma volta circular, com retorno também em bicicleta.


_Tinham-me dito que Chiloe seria plano. É quase sempre assim...

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Chonchi é bastante bonito. E pequeno.







_Conchi.

Talvez o local mais interessante seja a igreja. Está construída em madeira como outras de Chiloe. 70 delas pertencem à chamada "Escuela Chilota de Arquitectura Religiosa". As primeiras foram construídas integralmente em madeira, com as suas partes unidas por "tarugos" (encaixes de madeira), em vez de pregos.
Estas säo, junto a algumas existentes nos Estados Unidos, Alemanha e países escandinavos um dos poucos exemplos mundiais de arquitectura em madeira do século XVIII. Por isso foram seleccionadas entre os 100 monumentos do Mundo em risco de desaparecer e 16 de elas foram declaradas, pela UNESCO, como "Património da Humanidade" no ano 2000.
Nesta privilegiada lista encontra-se a "Iglesia de San Carlos de Borroneo", em Chonchi.
A sua construçäo foi iniciada pelos Jesuítas em 1754 e ficou por concluir até 1859 quando foi finalizada em estilo neoclássico.
Este templo é um dos maiores da ilha, com 730 m2.




_Exterior e interior da Iglesia de San Carlos de Borroneo, em Chonchi.

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Outro pormenor arquitectónico muito presente nas construçöes de Chiloe säo as "tejuelas".


_Construçäo "forrada" com "tejuelas".

Este é um versátil material de construçäo chamado originalmente "pizarrilla" pois na Idade Média, na europa eram usadas lajes de pedra "pizarra".
A sua actual divulgaçäo deve-se aos colonos alemäes que se estabeleceram em Llanquihue, Puerto Montt e arredores de Ancud (Chiloe) e que as empregaram com profusäo nas suas construçöes.
Trata-se de tábuas de madeira de alerce, muito finas, estreitas e compridas (até 90 cm). Säo colocadas umas sobre as outras numa capa tripla, para evitar a penetraçäo da chuva. A parte visível da "tejuela" é um terço do seu comprimento total e, dependendo das distintas formas de cortar o extremo visível, as fachadas adquirem uma textura que as singulariza.




_Exemplos de "tejuelas".

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Amanhä, tomarei o Norte até Castro e Dalcahue. Nesta última povoaçäo, desviarei para Este, com "rípio" sob as rodas, para visitar San Juan, Tenaún, Colo...
Espero chegar às proximidades de Quemchi, terra natal de Francisco Coloane.
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Até uma próxima emissäo, fica um grande abraço a todos, ouvintes e participantes fiéis de Radio Tamarugo.